
“Vicky Cristina Barcelona” conta a história de duas estadunidenses que decidem passar as férias em Barcelona. Vicky (Rebecca Hall) quer aproveitar o período e o local propício para avançar seus estudos sobre identidade catalã. Cristina (Scarlett Johansson) sofre uma profunda crise de identidade e vai tentar encontrar o que procura (ainda que não saiba exatamente o que é) na cidade espanhola. Elas são completamente diferentes e, já no seu primeiro dia de viagem, se deparam com uma situação inesperada e perdem um bom tempo discutindo que caminho seguir. Enquanto uma deseja ir para um lado, a outra quer exatamente o sentido oposto. Então, chegam a um acordo e, em pouco tempo, estão em uma pequena cidade do interior da Espanha na companhia de Juan (Javier Bardem), um pintor cuja vida é guiada totalmente pelas emoções. Juan desperta imediatamente uma profunda atração em Cristina e uma tremenda irritação em Vicky. Os três passam um fim-de-semana conturbado, confuso e mal-resolvido. De volta a Barcelona, Juan e Cristina iniciam um louco romance, o que parece estar satisfazendo imensamente a americana, juntamente com o dom artístico que vem descobrindo durante a viagem: a fotografia. Enquanto isso, Vicky vive um conflito interno a poucos dias de seu casamento com Doug (Chris Messina), que, devido ao trabalho, permaneceu nos Estados Unidos. A narrativa do filme é estável até o momento em que surge na tela Penélope Cruz, interpretando Maria Elena, ex-mulher de Ju

O novo filme do cineasta estadunidense conta uma história que incomoda, perturba e que dificilmente deixa um espectador apático. Por isso, embora resguarde diferenças em relação a suas obras anteriores, o filme traz características já marcantes e recorrentes na filmografia de Woody Allen: a busca por algo incerto, amores mal-resolvidos, reflexão profunda acerca da satisfação/insatisfação humana. Aqui, o diretor foi melhor sucedido na medida em que aborda um tema que está relacionado a sua vida pessoal, sem que, necessariamente, seu personagem seja interpretado por ele mesmo. Todos os atores tiveram atuações brilhantes, principalmente se comparadas à interpretação imutável do cineasta. Woody Allen sempre busca transpassar para a tela suas neuroses e seu pessimismo em relação à vida e, neste filme, parece que o diretor descobriu que isso pode ser feito sem que seus protagonistas sejam absurdamente neuróticos. Assim, filme mixa bastante bem momentos de tensão e graça, em que seus personagens oscilam entre o desfrute das situações prazerosas da vida e a reflexão sobre suas ações e seus desejos – alguns tendendo mais para um lado, outros para o outro. A história fica ainda mais amarrada diante da narração em off que analisa os personagens, dando um toque literário ao filme, e da trilha sonora, que não poderia ser mais apropriada

Barcelona é, sem dúvida, uma das personagens da história. Não é à toa sua presença no nome do filme. Muitos criticaram a maneira como a cidade aparece, por evidenciar locais turísticos. Porém, creio que isso é feito de maneira natural na medida em que o filme narra a história de duas turistas, além de Vicky sempre relacionar as localidades a seus estudos catalães. O essencial é que é a cidade quem vai mexer profundamente com as americanas, seja pela presença viva da arte que incita suas emoções, seja pela fuga da rotina, que é totalmente diferente da vida nos Estados Unidos. Tudo isso, adornado por um colorido encantador, incitador de emoções, totalmente à la Espanha, mas completamente diferente de Woody Allen. Um dos pontos mais intrigantes é que, em Barcelona, elas vivem uma fuga da realidade, mas é exatamente ali que são trazidas de volta a ela.
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Trailer: