quarta-feira, dezembro 17, 2008

"Vicky Cristina Barcelona" demonstra evolução do cinema de Woody Allen

Sempre tive um pé atrás em relação ao trabalho de Woody Allen, ainda que ele seja um dos mais reconhecidos diretores estadunidenses atuais. Porém, tenho que admitir que não se trata de uma resistência fortuita. Quando descobri que ele existia, em tempos remotos, resolvi assistir “Poderosa Afrodite” (1995). Minha primeira reação foi de indiferença, pois não achei o filme ruim, tampouco espetacular. Resolvi tentar mais uma vez e vi “O que você sempre quis saber sobre sexo, mas tinha medo de perguntar” (1972), então quase desisti de tentar gostar de Woody Allen. Mas como não tinha visto seus principais filmes, me vi obrigada a relevar. Assisti a mais alguns, mas eles apenas amenizaram minhas restrições ao cineasta, até que Woody lançou “Match Point” (2005), e tudo mudou. Então, resolvi ir ao cinema assistir seu novo “Vicky Cristina Barcelona” e, finalmente, descobri qual era meu problema com o Woody Allen. Não é que ele não seja um bom roteirista ou diretor, só não consigo suportar a presença dele por mais de dez minutos na tela. Basta tirá-lo de cena e seus filmes ficam o máximo, ainda mais na presença do excelente elenco que compõe a história de seu mais recente filme.
“Vicky Cristina Barcelona” conta a história de duas estadunidenses que decidem passar as férias em Barcelona. Vicky (Rebecca Hall) quer aproveitar o período e o local propício para avançar seus estudos sobre identidade catalã. Cristina (Scarlett Johansson) sofre uma profunda crise de identidade e vai tentar encontrar o que procura (ainda que não saiba exatamente o que é) na cidade espanhola. Elas são completamente diferentes e, já no seu primeiro dia de viagem, se deparam com uma situação inesperada e perdem um bom tempo discutindo que caminho seguir. Enquanto uma deseja ir para um lado, a outra quer exatamente o sentido oposto. Então, chegam a um acordo e, em pouco tempo, estão em uma pequena cidade do interior da Espanha na companhia de Juan (Javier Bardem), um pintor cuja vida é guiada totalmente pelas emoções. Juan desperta imediatamente uma profunda atração em Cristina e uma tremenda irritação em Vicky. Os três passam um fim-de-semana conturbado, confuso e mal-resolvido. De volta a Barcelona, Juan e Cristina iniciam um louco romance, o que parece estar satisfazendo imensamente a americana, juntamente com o dom artístico que vem descobrindo durante a viagem: a fotografia. Enquanto isso, Vicky vive um conflito interno a poucos dias de seu casamento com Doug (Chris Messina), que, devido ao trabalho, permaneceu nos Estados Unidos. A narrativa do filme é estável até o momento em que surge na tela Penélope Cruz, interpretando Maria Elena, ex-mulher de Juan. Trata-se de uma pintora de gênio forte, psicologicamente perturbada e que mexe com as emoções não só de todos os outros personagens, mas também dos espectadores. A partir de então, se inicia uma história insana de relacionamentos entre personagens que lidam de forma diferente com razão e emoção, mas que tem em comum a frustração em relação ao amor.
O novo filme do cineasta estadunidense conta uma história que incomoda, perturba e que dificilmente deixa um espectador apático. Por isso, embora resguarde diferenças em relação a suas obras anteriores, o filme traz características já marcantes e recorrentes na filmografia de Woody Allen: a busca por algo incerto, amores mal-resolvidos, reflexão profunda acerca da satisfação/insatisfação humana. Aqui, o diretor foi melhor sucedido na medida em que aborda um tema que está relacionado a sua vida pessoal, sem que, necessariamente, seu personagem seja interpretado por ele mesmo. Todos os atores tiveram atuações brilhantes, principalmente se comparadas à interpretação imutável do cineasta. Woody Allen sempre busca transpassar para a tela suas neuroses e seu pessimismo em relação à vida e, neste filme, parece que o diretor descobriu que isso pode ser feito sem que seus protagonistas sejam absurdamente neuróticos. Assim, filme mixa bastante bem momentos de tensão e graça, em que seus personagens oscilam entre o desfrute das situações prazerosas da vida e a reflexão sobre suas ações e seus desejos – alguns tendendo mais para um lado, outros para o outro. A história fica ainda mais amarrada diante da narração em off que analisa os personagens, dando um toque literário ao filme, e da trilha sonora, que não poderia ser mais apropriada: a música Barcelona, de Giulia y Los Tellarini.
Barcelona é, sem dúvida, uma das personagens da história. Não é à toa sua presença no nome do filme. Muitos criticaram a maneira como a cidade aparece, por evidenciar locais turísticos. Porém, creio que isso é feito de maneira natural na medida em que o filme narra a história de duas turistas, além de Vicky sempre relacionar as localidades a seus estudos catalães. O essencial é que é a cidade quem vai mexer profundamente com as americanas, seja pela presença viva da arte que incita suas emoções, seja pela fuga da rotina, que é totalmente diferente da vida nos Estados Unidos. Tudo isso, adornado por um colorido encantador, incitador de emoções, totalmente à la Espanha, mas completamente diferente de Woody Allen. Um dos pontos mais intrigantes é que, em Barcelona, elas vivem uma fuga da realidade, mas é exatamente ali que são trazidas de volta a ela.
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Trailer:

sábado, dezembro 13, 2008

Resvalou na folha verde, pingou na sua testa e escorreu, desceu... Estava completamente sozinha. Eu vi.

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Poesia em formato cinematográfico

Estou num período de relembrar velhos momentos. Agora, depois de adulta, tento fazer releituras de um passado sobre o qual pouca coisa recordo. Essa não foi uma decisão que tomei um dia desses e que, a partir de então, passei a viver uma rotina de melancolias. Apenas, casualmente, fui obrigada a refletir sobre meu passado simplesmente porque não havia como não fazê-lo.
Há pouco, escrevi a vocês sobre o filme “Valentín”, do argentino Alejandro Agresti, no qual tive que tentar me colocar no lugar do pequeno menino de nove anos que se depara com a falta de sensibilidade dos adultos. Então, na última sexta-feira, precisei me transportar para sete anos de idade. Decidi pegar um filme que há tempos me chamava atenção na prateleira da locadora: “A Língua das Mariposas”, do espanhol José Luís Cuerda. Certamente não são filmes exatamente semelhantes, pois, embora tenham temáticas um tanto parecidas, seus enredos são totalmente distintos, mas ambos narram a história do ponto-de-vista de uma criança e, por isso, me remeteram ao passado. Entretanto, não quero traçar uma comparação entre ambos, até porque, se fosse o caso, faria uma comparação oposta a que deveria, pois o argentino foi filmado cinco anos depois do espanhol.
Lançado em 1999, “A Língua das Mariposas” é baseado em textos do livro “Qué me quieres, amor?”, de Manuel Rivas. O filme conta a história de Moncho (Manuel Lozano), um menino que, como a maioria das crianças, se depara com o medo de ir, pela primeira vez, à escola. Seu receio não é fortuito; se deve aos boatos de que os professores batiam nos alunos. Contudo, depois de um primeiro dia de aula vexatório, Moncho se surpreende com a maneira como seu professor, Don Gregório (Fernando Fernán Gómez), lida com seu acanhamento, e acaba voltando ao colégio por sua própria vontade. A partir daí, o menino começa uma seqüência encantadora de descobertas sobre o mundo. É incrível a atuação do ator-mirim, que muitas vezes demonstra suas fascinações claramente sem mencionar uma única palavra. A sensibilidade da história é ainda complementada pelo ambiente totalmente bucólico e pelas canções em saxofone, que toca Andrés (Alexis de los Santos), irmão do pequeno garoto.
Moncho tem uma relação muito próxima com três pessoas: seu professor, Andrés e seu colega Roque (Tamar Novas). É junto deles que realiza a maioria de suas descobertas, como a literatura, a música, a natureza, o amor, o sexo e até a política. Depois compartilha algumas descobertas com seus pais, demonstrando uma absurda fascinação pelo que conta. O filme transcorre num tom poético quase em sua totalidade. As interrupções decorrem porque a história se passa no período que antecede a Guerra Civil Espanhola e a ascensão de Francisco Franco ao poder. Com isso, o clima poético se mistura à angustiante perseguição aos republicanos, que são condenados à morte, o desespero dos que ficam sem eles, tendo que condená-los, e a frustração dos que negam seus ideais para se manterem vivos.
O filme trata mais da beleza que antecede o período crítico do que dele próprio, mas impõe reflexões profundas sobre como seria o futuro daquela gente, principalmente dos mais inocentes, condenados a odiar e a condenar aqueles que amam sem entender exatamente por quê. Por isso, voltei ao passado. Para tentar resgatar as emoções e os sentimentos puros que tinha naquela época e ver as situações com olhar de criança. Obviamente, não consegui, pois só consigo vê-las através de minha total experiência até hoje. Porém, é graças a ela que devo a compreensão dessa história aparentemente tão simples, mas demasiadamente profunda.
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Trailer:

sexta-feira, novembro 28, 2008

Cidadão Instigado

Aqui, do meu humilde conhecimento musical, queria indicar a melhor banda que descobri nos últimos tempos. Confesso não ser uma profunda conhecedora de ritmos, acordes e melodias. Porém, acho que no dia-a-dia mesmo nosso ouvido acaba adquirindo alguma sensibilidade e discernimento para saber o que tem algum valor. Que tipo de música é?! Bom... é difícil descrever com precisão. É uma tentativa (bem sucedida, na minha opinião) de misturar música nordestina, rock dos 70, música brega e talvez alguns temperos a mais. O grupo surgiu em 1999, em Fortaleza (CE), mas só tive contato com ele há poucos dias. Infelizmente. Se você já ouviu falar, ótimo. Se não, dá uma olhada lá.
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É... eu não sei fazer o vídeo aparecer direto aqui. Alguém me ajuda?

quinta-feira, novembro 20, 2008

Valentín: un niño que enfrenta la crueldad del mundo de los adultos

Cualquier uno que tuvo infancia sabe que nos es fácil crecer y encarar los problemas de la vida. Cuando chicos, somos protegidos por los adultos, que nos mantienen aislados en un mundo de fantasía. Entonces, de un día a otro, todo en lo que creíamos se derruí y pasamos a no entender más nada. Mientras el mundo nos desengaña, perdimos la fe en nuestras propias creencias. ¿Quién nunca ha deseado vivir eternamente en la dulce infancia? No siendo ello viable, ¿sería mejor depararnos con toda la realidad del mundo y de la sociedad desde que nacimos? ¿Tendríamos fuerza y madurez para soportar la verdad? Por otro lado, ¿será que la vida de los niños es realmente tan fácil y feliz?
La película Valentín, dirigida por Alejandro Agresti, hace sus espectadores reflexionaren sobre todo eso de una forma tan interesante como dolorosa. Después de los longas-metrajes El hombre que ganó la razón, Buenos Aires Viceversa, La Cruz y El viento se llevó lo que, Agresti decidió basarse en su propia infancia para contar la historia de un niño de nueve años que vive en los años sesenta y que ve sus creencias se derrumbaren poco a poco de acuerdo con los problemas que enfrenta. La película es narrada a través del punto de vista de Valentín, interpretado por Rodrigo Noya, que cuenta su propia historia y revela sus angustias tan profunda y verosímilmente que parece que somos nosotros quien estamos vivenciando aquella situación. La actuación de Rodrigo es tan sublime y cautivante que incita reflexiones sobre como un niño tiene la capacidad de absorber tan profundamente el dolor de problemas que jamás ha vivenciado. Principalmente cuando vemos que, aunque tope con situaciones en las cuales no sabe exactamente como provenir, Valentín demuestra una madurez casi irreal para encararlas. Digo casi porque, aunque para algunos la sensatez del protagonista pueda parecer falsa, ya he conocido niños dotados de una comprensibilidad aparentemente tan increíble como la de el. Ciertamente el director compuso su personaje con base en las reflexiones que tiene hoy en día de su pasado, lo que podría hacer el filme perder la ingenuidad de las observaciones del niño tal como niño. Pero, en ningún momento el toque adulto de Agresti torna artificial la película. Interponiendo momentos de madurez y momentos de total incomprensión y inconformidad con la vida, Agresti compone el niño con ingenuidad en medida cierta para dar verosimilitud al personaje.
Valentín vive con su abuela – que gana vida en la película a través de la brillante actriz española Carmen Maura – pues, desde que sus padres se separaron, su madre está desaparecida y su padre está siempre tan ocupado que dedica poquísimo tiempo a él. La única persona de su familia con quien el muchachito puede contar es su abuela. Por ello, él empieza a desesperarse cuando se da cuenta de que ella no está muy bien de salud. A lo contrario de lo que parece hasta aquí, la vida del niño no es sólo aflicciones, pero también sueños con su futuro. Valentín pasa sus días entrenando para ser astronauta, escuchando algunos de los sucesos del pop rock argentino de la época, poniendo atención a las historias melancólicas de su abuela y huyendo de ella para aprender a tocar piano con su amigo y vecino Rufo, que a pesar de ser mucho más viejo que Valentín, parece identificarse demasiado con él. Además de ello, llama la atención en la película la forma como Agresti introduce cuestiones sociales de la época – por ejemplo, el viaje del hombre a la luna y los prejuicios a los judíos y comunistas – las vinculando a cuestiones del diario del niño y de las personas que conviven con él. En medio a todo eso, Valentín se va conociendo y preparando la narrativa para un final sorprendente.
La película encanta principalmente por su simplicidad, pues, aunque a la mirada se note una razonable estética y lenguaje, lo que más cautiva es la estupenda actuación de los actores y la naturalidad como trata un tema tan amargo, que asola la vida de muchos niños. No fue por nada que fue considerada la mejor película argentina del año de su lanzamiento. Es de quitar el resuello de cualquiera.
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Lo prometido es deuda!

terça-feira, novembro 11, 2008

Dissecando o amor

Insistentemente eu lhe direcionava olhares e palavras repletos de subtextos. Ele insistentemente fugia de meus olhares e de minhas palavras. Apenas quando inevitável, restringia-se a responder “sim” ou “não”. Raramente, deixava escapar um “por quê?”, fingindo certo interesse. De repente, começou a me telefonar incansavelmente sem nem saber por quê: “Onde estás?”, “Como estás?”, “O que estás fazendo?”. Esperava eu responder, convidá-lo para algo, inventava uma desculpa qualquer nada convincente e desligava. Depois de um ou dois meses, não recordo bem, encontrei-o propositadamente numa festa. Ele cumprimentou alguns conhecidos, acenou-me de longe e dirigiu-se ao outro lado da pista de dança da boate, como um bichinho acanhado que se encolhe num canto quando se depara com locais ou seres desconhecidos. Eu estava lá só por causa dele, mas parecia que ele não entendia e insistia em me ignorar. Não conhecia nem uma pitadinha da minha persistência. Qualquer uma já teria desistido por orgulho, por raiva ou simplesmente por desilusão, por achá-lo um tremendo pateta. Mas eu atravessei a pista em direção ao bar, escolhi um aperitivo qualquer, sem muito interesse nem preocupação em saber o que estava bebendo, e discretamente deslizei meus olhos pelo ambiente, buscando aquele rosto apoucado. Pela timidez ele se esconderia fácil, fácil, mas sua cabeleira loira e seus olhos azuis reluzentes o denunciariam sempre, em qualquer lugar, por mais escuro que fosse: estava sozinho, asilado num canto qualquer. Fui até ele, ofereci minha bebida, tentei esboçar algum tipo de diálogo, mas ele não parecia muito interessado na conversa. Despejei milhares de palavras desconexas que pareciam não lhe fazer o mínimo sentido. Então, diante da falta de interesse em meu papo, ele me beijou.
Nos dias seguintes, ele fazia questão de me cumprimentar e direcionar sobre mim algumas palavras que demonstrassem seu duvidoso interesse. Falava coisas sem importância, calava, ficava vermelho e me convidava para almoçar. Nos dias seguintes, eu descobri que, finalmente, me livrara do outro. Calava, falava coisas sem importância e aceitava o convite. Foi tudo indo assim, meio devagarzinho, como um tumor que a gente nem sabe que existe e, de repente, quando o percebemos já tomou conta de nós. Ele continuava com o mesmo jeito desajeitado e inibido, mas pelo menos não ignorava mais meus olhares e palavras. Um dia, senti um desejo absurdo de abrir meu coração e contar-lhe tudo, mas um temor e uma vergonha terrível tomaram conta de mim. Não consegui pronunciar nenhuma palavra de uma única sílaba que fosse, e meu sangue subiu como nunca e parecia estar todo ele disputando espaço na minha pequena e delicada face. O resto do corpo gelou, mas minha cara pegava fogo só de pensar. Havia momentos em que ele parecia um total desconhecido para mim, mesmo depois de mais de um ano convivendo quase que diariamente. Sentia-me retraída e parecia outra pessoa diante daquele ser que eu amava tanto. Definitivamente, não era eu.
Ele sorria charmosamente na minha direção, fazia-me cosquinhas, abraçava-me docilmente, me colocava apelidos idiotas, que pareciam os mais românticos do mundo. Mas faltava algo e era algo difícil de descobrir o que era, mas fácil de perceber que não podia faltar. De repente, percebi que novamente eu lhe dirigia olhares não correspondidos, perguntas sem respostas, longos monólogos em que minha voz retumbava na sala e voltava para mim após encontrar as paredes. Meu telefone não tocava mais, nem para esboçar aquelas secas e forçadas palavras. Passavam-se dias, então eu ligava e ele perguntava: “Onde estás?”, “Como estás?”, “O que estás fazendo?”, fingindo alegria em receber minha ligação. Esperava eu responder, convidá-lo para algo, inventava uma desculpa qualquer nada convincente e desligava. Certo dia, irritei-me e deixei a raiva e a tristeza consumirem-me, mas não liguei. Depois de uma semana, esbarramo-nos por acaso, e ele teve de me dar alguma satisfação – mínima, que fosse. Então, percebi o temor que ele também sentia de mim, mesmo depois de dois anos de convivência quase que diária. Ficou rodeando, rodeando, soltando palavras sem sentido algum, tentando formar frases que beiravam à esquizofrenia. Eu não entendia nada, não sabia de onde ele tinha partido, onde ele estava e, muitos menos, onde queria chegar. Assim, tive um lapso de coragem instantâneo e falei o que antes temia mortalmente: “Eu te amo”. Era tarde, eu já sabia. Mas era cedo demais ainda para ele. Mais um silêncio ignorava as minhas palavras, mas, àquela altura, eram apenas palavras, antes nunca ditas, tampouco ouvidas.
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OBS: Devo a tradução do Valentín... eu sei. Tá quase... quase...

sábado, novembro 01, 2008

Valentín: uma criança que enfrenta a crueldade do mundo adulto

Qualquer um que teve infância sabe que não é nada fácil crescer e encarar os problemas da vida. Quando somos pequenos, os adultos nos protegem, mantendo-nos ilhados num mundo de fantasia. Então, de um dia para o outro, tudo aquilo em que acreditávamos desmorona e passamos a não entender mais nada. Enquanto o mundo nos desilude, vamos perdendo a fé em nossas próprias crenças. Quem já não desejou poder viver eternamente na doce infância? Não sendo isso viável, será que seria melhor nos depararmos com toda a realidade do mundo e da sociedade desde que nascemos? Será que teríamos força e maturidade para suportar a verdade? Por outro lado, será que a vida das crianças é realmente tão fácil e feliz assim?
O filme Valentín, dirigido por Alejandro Agresti, faz com que seus espectadores reflitam sobre tudo isso de uma maneira tão interessante quanto dolorosa. Depois dos longas-metragens El hombre que ganó la razón, Buenos Aires Viceversa, La Cruz e El viento se llevó lo que, Agresti decidiu se basear na sua própria infância para contar a história de um menino de nove anos que vive nos anos 60 e que vê suas crenças desabando pouco a pouco de acordo com os problemas que vem enfrentando. O filme é narrado do ponto de vista do garoto Valentín, interpretado por Rodrigo Noya, que vai contando sua própria história e revelando suas angústias de uma maneira tão profunda e verossímil, que parece que estamos em sua pele. A atuação de Rodrigo é tão sublime e cativante, que incita reflexões sobre como uma criança teria a capacidade de absorver tão profundamente a dor de problemas que jamais enfrentou. Ainda mais quando vemos que apesar de lidar com situações com as quais não sabe exatamente como proceder, Valentín demonstra uma maturidade quase irreal para enfrentá-las. Digo quase porque, embora para alguns a sensatez do protagonista possa soar falsa, já me deparei com crianças dotadas de uma compreensibilidade aparentemente tão incrível quanto a dele. Certamente o diretor compôs seu personagem com base nas reflexões que tem hoje de seu passado, o que poderia fazer com que o filme perdesse a ingenuidade das observações da criança enquanto criança. Entretanto, em momento algum o dedo adulto de Agresti artificializa o filme. Intercalando momentos de maturidade com momentos de total incompreensão e inconformismo com a vida, Agresti compõe a criança com ingenuidade na medida certa para dar verossimilhança ao personagem.
Valentín vive com sua avó – que ganha vida através da brilhante atriz espanhola Carmen Maura – pois, desde que seus pais se separaram, sua mãe está desaparecida e seu pai é tão ocupado que dedica pouquíssimo tempo a ele. A única pessoa da família com que o garoto pode contar é sua avó, por isso ele começa a entrar em desespero quando nota que ela não está muito bem de saúde. Ao contrário do que aparenta até aqui, a vida da criança não é feita somente de aflições, mas também de sonhos em relação ao futuro. Valentín passa seus dias treinando para ser astronauta, escutando alguns sucessos do pop rock argentino da época, ouvindo as histórias melancólicas e saudosistas da sua avó e fugindo dela para aprender a tocar piano com seu amigo e vizinho Rufo, que, apesar de ser bem mais velho que Valentín, parece se identificar deveras com ele. Além disso, chama atenção no filme a maneira como Agresti insere questões da sociedade da época – como a chegada do homem ao espaço e o preconceito em relação aos judeus e comunistas – vinculando-as a questões do dia-a-dia da criança e das pessoas que com ela convivem. Em meio a tudo isso, Valentín vai se conhecendo e preparando a narrativa para um final surpreendente.
O filme encanta principalmente por sua simplicidade, pois ainda que aparentemente o filme não deixe nada a desejar em questões de estática e linguagem, o que mais cativa nele é a atuação brilhante dos atores e a naturalidade com que trata um tema tão amargo, que assola a vida de muitas crianças. Não é à toa que foi considerado o melhor filme argentino no ano em foi lançado. É de tirar o fôlego de qualquer um.
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OBS: Mañana voy a traducir ese texto al español para que ustedes, amigos castellanos, lo compreendan mejor. Besotes!

segunda-feira, outubro 27, 2008

De forma nada convencional, O Fim da Picada leva à reflexão da sociedade atual

Se posto diante de uma platéia anti-reflexiva, O Fim da Picada, que marca a estréia de Christian Saghaard na direção de longas-metragens, pode parecer que beire o delírio e a loucura, sugestionando não ter nexo nem sentido algum. A subversão da maneira corriqueira de se contar estórias ou histórias que possuem início, meio e fim (não necessariamente dispostos na tela nessa ordem), além da temática abordada, que transpassa a narrativa, influenciando sua linguagem e estática, causa certo estranhamento em um primeiro momento. Entretanto, a perturbação e a angústia causadas tanto pelo tema escolhido pelo diretor como pela forma nada convencional como é narrado levam o espectador mais atento a uma reflexão profunda, notando que o filme vai muito além de uma simples aberração.
Saghaard dá início a seu novo filme a partir de Macário, que participa de um ritual satânico em uma praia brasileira por volta de 1850. Após um encontro com Exú-Lebara (entidade feminina do Candomblé), Macário decide subir a serra na companhia dela em direção a São Paulo. Entretanto, ao chegar na cidade, depara-se com a imensa metrópole caótica do século XXI. É evidente a influência da peça teatral Macário, escrita por Álvares de Azevedo em 1852, no filme, não apenas pelo nome em comum de seus protagonistas. Ambas as obras partem de um encontro entre sua personagem principal e o satã, além de criticarem a sociedade de seu tempo e, mais do que isso, a São Paulo de seu tempo. Porém, O Fim da Picada não se trata simplesmente de uma adaptação da obra literária para o cinema e essa, certamente, não é a única influência perceptível na obra. Também nota-se perfeitamente o flerte do diretor com o cinema marginal tanto pela subversão da linguagem cinematográfica, como por sua preocupação social. Há ainda certa semelhança com Macunaíma, filme dirigido por Joaquim Pedro de Andrade em 1969 e baseado na obra homônima de Mário de Andrade, na medida em que satiriza aspectos do mundo atual, utilizando-se de figuras do folclore nacional. Saghaard desvincula-se do tempo e recorre a personagens folclóricos, místicos e fantásticos a fim de criticar os absurdos que permeiam a realidade mundana; ou seja, busca elementos além da realidade para denunciá-la. Além disso, Macunaíma é um anti-herói, da mesma forma que todos os personagens que compõem a trama de Saghaard.
Assim, figuras estranhas fictícias parecem misturar-se a figuras esquisitas reais, não sendo mais possível distinguir o que é delírio do que é absurdo, mas faz parte da vida real. A loucura que parece compor a trama disposta na tela é ainda moldada pela estética audaciosa do diretor, que se utiliza anarquicamente das imagens, pode-se dizer, justapondo-as, acelerando-as, fazendo intervenções em suas cores e unindo-as a uma sonoridade que termina de compor o ritmo inquietamente e perturbador do filme. O incrível dos efeitos é que a grande maioria deles foi realizada na própria captação das imagens.
Trabalhando com temas extremamente próximos a nós, como a violência, as drogas, a preocupação exacerbada com a aparência, a falta de atenção ao que está bem debaixo do nosso nariz e o que mais puder se encontrar nas entrelinhas da narrativa, Saghaard põem tudo isso na tela, muitas vezes, em subtexto, dificultando a compreensão do espectador de forma proposital. É justamente no estranhamento causado por ele que está um de seus maiores méritos, pois seu objetivo é fazer o público refletir sobre as bizarrices com as quais normalmente se depara, mas raramente dedica sua atenção. Depois dos curtas-metragens O Palco (1992), Meressias (1994), Sinhá Demência e Outras Histórias (1996), Demônios (2004) e Isabel e o Cachorro Flautista (2005), Saghaard realiza mais um filme que promete mais incomodar do que divertir.
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Na foto, Christian Saghaard, diretor do longa, durante a premiação do CineEsquemaNovo2008. O Fim da Picada ganhou o prêmio de melhor longa-metragem pelo júri de premiação e pela nova crítica.
Foto de Aline Duvoisin

domingo, outubro 26, 2008

Sensibilidade com que retrata os sentimentos é o principal mérito de Meu Nome é Dindi

Meu Nome é Dindi, primeiro longa de Bruno Safadi – que também dirigiu os curtas Na Idade da Imagem ou Projeção nas Cavernas (2002), Uma Estrela pra Ioiô (2003) e Tabu Totem (2005) – tem tudo para ser aclamado em sua estréia nacional, prevista para início do mês que vem. O longa-metragem – que recebeu o prêmio de melhor filme da 11ª Mostra de Tiradentes, realizada em janeiro deste ano – apesar de não ter sido premiado, foi muito bem recepcionado pelo público durante o CineEsquemaNovo2008. Seus méritos são vários: a sensibilidade com que trata a passagem do tempo, o diálogo estabelecido com mestres do cinema, a brilhante forma com que se utiliza dos planos-seqüência, a sublime atuação dos atores. Há ressalvas, que, entretanto, são poucas e talvez passem despercebidas diante de suas qualidades ou, pelo menos, não chegam a comprometer a excelência do filme.
O enredo trata da vida de Dindi (Djin Sganzerla), uma jovem que luta para manter a fruteira herdada da família, diante da competitividade imposta pelo mercado construído nas redondezas. Dindi parece não ver saída para seus problemas e, ao mesmo tempo em que busca conforto nos braços de Marcão (Gustavo Falcão), teme as ameaças feitas por um açougueiro e as visitas constantes que começa a receber de um desconhecido. Assim, a moça parece refugiar-se nas lembranças do passado, enquanto sonha com a melhora em um futuro ainda incerto. Essa nostalgia, misturada com o sonho de modificar uma realidade aparentemente imutável, é composta na tela acompanhada de elementos surrealistas que transmitem admiravelmente ao espectador o sentimento dos personagens com uma profundeza absolutamente incrível. Isso não seria possível, porém, caso a atuação do elenco não fosse cuidadosamente trabalhada. Embora muitas cenas tenham sido filmadas em uma única tomada, são pouquíssimos os momentos em que os atores deixam a desejar. Um dos pontos em que a atuação soa falsa está já no início da estória. Ao contrário do restante do filme, nesse momento, Djin Sganzerla não se entrega totalmente à personagem, pois fuma um cigarro sem tragar, o que torna artificial o fato de Dindi ser uma fumante. Se o cigarro visava demonstrar a aflição da personagem, a presença dele é questionável diante da eficácia da atuação de Djin, cuja angústia seria totalmente perceptível sem ele.
Diretor de uma produção independente e sem recursos estatais, Safadi optou pela utilização de planos-seqüência, a fim de economizar o máximo durante a realização do longa. Influenciado por Stanley Kubrick, Jean-Luc Godard, Federico Fellini e Júlio Bressane, Safadi optou por utilizar uma câmera que acompanha livremente os personagens, fazendo uma referência ao cinema marginal. Suas influências não estão presentes apenas nos métodos de filmagem, mas também na forma como Safadi trata as personagens e, também, na montagem. A falta de esperança que leva Dindi ao desespero, desestruturando-a emocionalmente, era uma maneira comum de abordagem dos personagens que o cinema marginal herdou do cinema novo. Porém, às vezes, parece que o diretor se prende às referências. O diálogo estabelecido entre o cinema de Safadi e o de Godard, por exemplo, prejudica a fluidez do filme e, muitas vezes, antecipa as surpresas da narrativa. Safadi optou por quebrar a seqüência dos planos e inserir uma tela preta com legendas, que divide o filme e numera seus momentos, além de explicar ao espectador previamente o que será tratado nos planos a seguir.
Apesar das ressalvas, Meu Nome é Dindi supera as expectativas principalmente pela sensibilidade com que Safadi trata o tema abordado. Embora já tenha bastante convivência com o meio cinematográfico, não deixa de ser uma surpresa a essência dos sentimentos que o ator consegue transpassar para a tela já em seu primeiro longa-metragem. Embora algumas das opções utilizadas pelo diretor no filme possam ser questionáveis, o fato é que, no todo, elas não se demonstraram prejudiciais para o envolvimento do público com o filme. É quase de não piscar.
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Leiam mais sobre o filme e assistam ao trailer em http://meunomeedindi.blogspot.com/

Na foto, Bruno Safadi, diretor do longa, durante debate após exibição do filme durante o CineEsquemaNovo2008, em Porto Alegre.
Foto de Aline Duvoisin
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OBS: Decidi postar coisas antes do meu dia marco de postagem, pois andei umas duas semanas sem atualizar o blog e, com isso, tenho muito sobre o que falar. :p

segunda-feira, outubro 20, 2008

Ousadia prejudica compreensão de “Redemoinho-Poema”

A obra da escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol compõe a atmosfera poética que permeia o filme “Redemoinho-Poema”, de Gabriel Sanna e Lúcia Castello Branco, apresentado na segunda e na terça-feira da semana passada, na Usina do Gasômetro e no Santander Cultural, respectivamente, na mostra de longas-metragens do CineEsquemaNovo. O filme segue o estilo cinematográfico alternativo que caracteriza o festival em que foi apresentado e não se trata de um filme de fácil compreensão, tendo um forte caráter reflexivo ao passar para a tela a vida e a obra de Maria Gabriela. Embora seja lento, não se trata de um filme cansativo, pois traça, com eficácia, sua reflexão poética, mixando uma fotografia belíssima, trechos de entrevistas e citações de poesia numa espécie de documentário cuja forma não é nada convencional.
“Redemoinho-Poema” integra a trilogia nomeada “Os Absolutamente Sós”, que teve início com o filme “Língua de Brincar”, exibido no CineEsquemaNovo do ano passado. Partindo da poesia da autora portuguesa, o filme percorre locais por onde ela passou e que, de alguma forma, influenciaram sua obra. Através de paisagens melancólicas, buscam recriar a solidão vivenciada por Maria Gabriela. Na tela, são intercaladas imagens com bastante movimento – que, na maioria das vezes, simbolizam viagens – e longos planos em que a câmera permanece parada numa mesma imagem – normalmente nos pontos mais reflexivos do longa. As entrevistas têm um caráter documental, mas também artístico, pois não aparecem através de enquadramentos convencionais. Além de apresentar a busca do entrevistador pelo entrevistado nem sempre alcançada (o que não é comum em documentários tradicionais), o filme ora apresenta a câmera focando a face do entrevistador e do entrevistado, ora vagando por expressões corporais ou espaços representativos das palavras ditas. Dessa forma, as declarações transpassam os planos onde têm origem e terminam em paisagens que promovem a meditação ou em legendas postas sobre a tela negra, identificando lugares ou fases da vida da escritora. Assim, a montagem é a grande responsável pela fluidez do filme.
Entretanto, a história acaba se tornando incompreensível em alguns momentos exatamente por causa da ousadia estética com que é retratada. Gravado basicamente em Portugal e na Bélgica, há passagens, no filme, em francês, português de Portugal e português brasileiro. A opção de utilizar as legendas o mínimo possível limita sua compreensão, diante da falta de domínio de algum dos idiomas. A história também acaba prejudicada em certo aspecto na medida em que somente revela sobre o que está de fato falando lá pela metade do filme. Assim, o fato de se tratar de um documentário parece ser relegado em alguns momentos do filme. Embora possa ser seu objetivo mesclar características documentais e ficcionais, a maneira como isso aparece na tela prejudica sua inteligibilidade.
“Redemoinho-Poema” certamente não foi o melhor longa-metragem exibido no CineEsquemaNovo deste ano, mas também esteve bem longe de ser o pior deles. Apesar de perder em conteúdo devido a suas experimentações, enriquece a linguagem documental exatamente por não se ater em excesso a ela. Quem sabe no último filme da trilogia os diretores encontrem a dosagem certa, se é que ela existe.
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Na foto, Gabriel Sanna.
Foto de Aline Duvoisin.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Escusas e/y Excusas

Eu queria pedir desculpas a quem costuma ler este blog pelo meu atraso, novamente, em publicar algo novo. Andei bastante cheia de coisas na última semana, o que me dificultou a atualização deste portal. Na semana que vem, novamente será complicado, pois estarei trabalhando em dois locais ao mesmo tempo. Entretanto, comprometo-me a escrever algo ali sobre o Cine Esquema Novo, que acontece em Porto Alegre na próxima semana. Estarei trabalhando na cobertura, então não tenho muitas desculpas para não escrever algo sobre o evento.
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Deseo pedir perdón a quien suele leer ese blog por mi atraso, nuevamente, en publicar algo nuevo. Anduve bastante llena de cosas en la última semana, lo que dificultó la actualización de ese portal. En la próxima semana, también tendré dificultades en escribir algo nuevo acá, pués estaré trabajando en dos lugares al mismo tiempo. Pero, me comprometo en escribir algo sobre el Cine Esquema Novo, festival de cine que ocurre en Porto Alegre la semana que viene. Estaré trabajando en la cobertura, entonces no tengo muchas excusas para no escribir algo sobre el evento.
Quiero también que mis amigos castellanos disculpenme algunos probables errores y, si pueden, corrijanme.

Al final, quién lanzó la bomba?

Nunca me había puesto a reflexionar sobre el día de los trabajadores hasta el año pasado. Aunque las personas hablen por lo menos una vez al año de él, yo lo ignoraba como si no tuviera ninguna relación conmigo. Ya había trabajado en dos o tres empresas diferentes, pero no había sufrido nada que mi hiciera creer que ese día fuera importante. Pero el año pasado, en una de mis clases de la facultad, un profesor que tenía como rutina llevar recomendaciones de libros para sus alumnos se puso a hablar sobre la novela nombrada La Bomba, escrita por Frank Harris, renombrado autor irlandés que escribió biografías de Oscar Wilde y Bernard Shaw. Él comentó que la historia abordaba el surgimiento del día del trabador, entonces, yo, por la primera vez, pensé profundamente sobre ello. Así, salí de la clase y, pronto, me compré el libro.
Empecé a leerlo inmediatamente, pero tardé un ratito en terminarlo. No porque fuera aburrido, es que yo no tenía el tiempo que me gustaría para disfrutarlo. Ya en los primeros capítulos, La Bomba describe las deplorables condiciones de trabajo en los Estados Unidos de los anos ochenta del siglo XIX. El narrador es un periodista que dejó Alemania en búsqueda de trabajo en los Estados Unidos. Su nombre es Rudolph Schnaubelt, y sufrió demasiado en sus primeros intentos. Buscaba algún empleo en los periódicos de Nova York, pero fue ignorado por todos los empleadores. Así, decidió buscar otros tipos de trabajo, y sólo consiguió vacantes como operario en lugares asquerosos y repugnantes. Estuvo a punto de adquirir gravísimas enfermedades debido a las más condiciones de trabajo, lo que lo dejó demasiado revoltoso y lo hizo reunirse al movimiento anarquista. Por otro lado, sus mal-afortunadas y desastrosas experiencias le agregaron buen contenido para su actividad como periodista, así que, pasado un tiempo, consiguió empleo en un periódico socialista. Pero la prensa institucionalizada jamás le concedió algún segundo de atención.
Decepcionado con la vida en Nova York, Schnaubelt decide mudarse para Chicago, donde había, por intermedio de un amigo, conseguido una oportunidad mejor de empleo en un periódico local. Allá, empezó a frecuentar las reuniones de los trabajadores, donde conoció a Louis Lingg – principal responsable por el incidente trágico que originó el día de los trabajadores. Lingg era uno de los más conocidos líderes del movimiento anarquista en la región y tenía una habilidad increíble para seducir las personas con sus discursos. Pronto, Schnaubelt pasó a considerarlo uno de sus mayores ídolos, además de su mejor amigo.
Sublevado por Lingg, Schnaubelt se propuso a detonar la bomba que mató algunos policías y lastimó más de cincuenta personas, durante una riña entre los trabajadores y la policía en Chicago, en mayo de 1886. No se preocupen que yo no les estoy contando el final de la historia, puesto que el narrador ya admite su responsabilidad en el primero párrafo del libro. Lo intrigante es que, aunque la trama no sea completamente verdadera, es tan llena de detalles que, en algunos momentos, nos deja duda sobre donde termina la realidad y empieza la ficción. La mezcla es tamaña que en la época en que el libro fue lanzado hizo que mucha gente creyera que había sido el propio Harris quien había detonado la bomba. En verdad, hasta hoy en día hay dudas sobre eso, principalmente cuando se nota las semejanzas entre Schnaubelt y Harris: ambos eran periodistas, migraran para los Estados Unidos (aunque Harris hubiera dejado la Irlanda y Schnaubelt, la Alemania) y eran simpatizantes del movimiento anarquista.
Sea quien sea que haya sido el responsable por lo ocurrido, agravó la relación entre los trabajadores y la policía. Con prisa en demostrar servicio y superioridad, las autoridades detuvieron cinco líderes anarquistas y los condenaron a la muerte, aunque no estuvieran seguras de que hubieran sido ellos los responsables por el atentado. Las investigaciones mal conducidas y las indicaciones de que algunos de ellos eran inocentes desencadenaron una gran revuelta por parte de los trabajadores en repudio a las injusticias de las autoridades estadounidenses. Esas manifestaciones se difundieron para otros países del mundo, donde fueron creadas leyes que establecieron algunos derechos que los trabajadores no tenían antes. Por lo demás, se instituyó el día primero de mayo como el día de la lucha de los trabajadores por mejores condiciones de trabajo.
Actualmente, en Brasil, solimos criticar las huelgas y las manifestaciones, pero nos olvidamos que fue a través de ellas que logramos conquistar muchos de los derechos que tenemos hoy en día. Mientras algunos países de primer mundo siguen manteniendo la presión contra los abusos cometidos por las grandes corporaciones y por el gobierno, acá, donde todo es más precario, rechazamos el derecho del pueblo expresarse. Sin duda, los trabajadores son mucho más respectados al presente que en el siglo antepasado. Pero todavía hay abusos y, incluso, algunos países siguen manteniendo sus trabajadores en condiciones infrahumanas, como ocurre en algunos países de África y Asia, además de algunas ciudades pequeñas de la mayoría de los países.

terça-feira, outubro 07, 2008

Notas e correções

* Primeiro, desisto de acertar tudo a respeito do breve histórico do CQC. Meus amigos argentinos a cada dia me corrigem uma coisa nova (o que é ótimo!). Parece que não foi no canal Telefe que ele começou, mas, efim, o que é importa é que começou na Argentina, e não o canal. E, segundo dizem alguns, "um tipo de humor tipicamente argentino". Eu diria que está "caindo" muito bem no Brasil

* "Descobri" (tá certo, não fui bem eu...) hoje o talento escondido. O Marco Luque deveria mudar de função, pois se saiu bem melhor de repórter. Engraçadíssimo!!!

* Prometo que éste é o último post sobre o CQC.

* Amanhã (alguns diriam que já é hoje) é o dia da atualização oficial do blog. Peço desculpas pela minha ausência na semana passada, mas estive bastante enrolada no trabalho e acabei chegando todos os dias muito tarde em casa e cansada demais para escrever alguma coisa decente. O post desta terça-feira será especial. Desculpem os meus amigos brasileiros avessos a outros idiomas, mas meu próximo texto será em espanhol em homenagem aos meus hermanos castellanos que ora ou outra passam por aqui, e pouco entendem do que escrevo.

sábado, setembro 27, 2008

Corrigindo

Pessoal... arrumei um detalhezinho no último texto. Para facilitar a vida de quem já leu, quero avisar que cometi um errinho ao informar que o CQC teve início na Espanha. Na verdade, ele começou em 1995 no canal argentino Telefe, e em 1996 foi vendido para a Espanha. Além disso, tem versões dele em mais países do que eu havia citado: Estados Unidos, Israel, Chile, Itália, Uruguai e França.

quinta-feira, setembro 25, 2008

Humor refinado para dar vida à tevê brasileira

Se você nunca viu este moço de terno e óculos escuros aí da foto ou algum outro jovem da mesma faixa etária em performance semelhante, está na hora de sintonizar a televisão na Bandeirantes às 22h15min de segunda-feira. Encabeçados pelo renomado jornalista Marcelo Tas; Rafinha Bastos, Marco Luque, Felipe Andreoli, Danilo Gentili, Rafael Cortez (na foto), Oscar Filho e Warley Santana (o oitavo elemento) agregam boa dose de humor ao noticiar acontecimentos da semana, satirizando celebridades e políticos. Apesar de não ser cem por cento original, o programa – que estreou em março deste ano e foi responsável por dobrar a audiência da Band nas noites de segunda-feira – acrescenta à programação um tipo de humor inédito na televisão brasileira.
A nova atração foi nomeada CQC a fim de não perder a identidade com seus antecessores estrangeiros, entretanto se difere no significado da sigla. O programa teve início na Argentina em 1995 com o nome de Caiga Quien Caiga, e se disseminou por Espanha, Chile, Itália, Israel, França, Uruguai e Estados Unidos, chegando ao Brasil como Custe O Que Custar (ótima tradução, por sinal). Aqui, foi comparado ao Pânico na TV, da Rede TV!, embora tenham pouca semelhança. Ainda que ambos sejam humorísticos, enquanto este utiliza um tipo de humor exagerado para satirizar basicamente celebridades, o CQC emprega um humor elegante, inteligente e refinado para ironizar fundamentalmente a política e os políticos. O objetivo fundamental do programa não é ser engraçado, mas criticar ridiculamente fatos absurdos do nosso cotidiano. Além disso, sua equipe tem o que acrescentar à sociedade, pois traz à tela falcatruas políticas e cobra dos responsáveis mudanças prometidas às comunidades.
Alguns de seus integrantes são atores, outros são conhecidos por suas performances em stand-ups, alguns são jornalistas, mas absolutamente todos são dotados de uma imensurável dose de cara-de-pau. Os repórteres são assaz perspicazes. Apenas o Warley Santana mereceria uma ressalva, pois lhe faltam naturalidade e dinâmica. Talvez seu quadro, Em Foco, não colabore, visto que não tem nada de engraçado. Não haveria apresentador melhor que Marcelo Tas, eis que já tinha incorporado papel semelhante em seu repórter fictício Ernesto Varela, que ironizava personalidades políticas na época da abertura pós-ditadura militar. À bancada, está muito bem acompanhado de Rafinha Bastos, que sempre tem algum comentário relevante, além de engraçado. Entretanto, parece-me dispensável a presença de Marco Luque ao lado dos dois anteriormente citados. Não que o moço não tenha talento, pois seu desempenho no teatro é excelente. Porém, diria que as piadas dele são incoerentes com o programa, pois enquanto o CQC está repleto de humor inteligente, o do Luque beira a imbecilidade.
Além de uma inovação e revitalização à nossa televisão condenada à mesmice, diria que o programa aproxima-se da perfeição. Mas é preciso ter cuidado, pois um passo equivocado pode pôr tudo ladeira abaixo. Enquanto bem dosado, o CQC está excelente, mas basta exagerar nas frivolidades para colocar tudo a perder. Por outro lado, talvez pudesse ousar mais na criatividade e tentar fugir levemente dos critérios estabelecidos por seus antecessores, agregando assim mais originalidade ao programa e aproximando-o ainda mais dos brasileiros.
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Rafael Cortez na Festa Farroupilha:
Danilo Gentili expulso do Zoológico:
Danilo Gentili expulso do Congresso:
Proteste Já - Rafinhas Bastos e os cemitérios do DF:

quarta-feira, setembro 24, 2008

3 Efes ousa, mas peca

O professor Aníbal Damasceno Ferreira, da PUCRS, criou a teoria de que a humanidade é movida por três apetites: a fome, o sexo e o fasma. Um de seus alunos afirmou, então, que se tratava da teoria dos três efes. Foi dessa conjectura que surgiu o personagem professor Valadares e toda a trama que confirma suas proposições no novo filme do cineasta gaúcho Carlos Gerbase, 3 Efes. O diretor utiliza as próprias deficiências técnicas em favor da história inusitada, o que agrega leves pitadas de humor ao enredo. Entretanto, algumas das circunstâncias em que a obra foi exibida comprometem a sua relação com o espectador, justamente pela inovação a que ele se propõe.
O longa expõe a história que sustenta a teoria dos três efes a partir da protagonista Sissi (Cris Kessler) que passa por dificuldades financeiras e, portanto, não tem condições de saciar sua fome, tentado superá-la através dos outros apetites. Por meio dela, surge a história de sua tia Martina (Carla Cassapo), uma excelente cozinheira que vive um casamento frustrado com o publicitário Rogério (Leonardo Machado), e acaba se apaixonando pelo papeleiro William (Paulo Rodrigues). Todos esses; somados a Giane (Ana Maria Marnieri), Betinho (Felipe de Paula), Heitor (Fábio Rangel), entre outros; acabam vendo suas rotinas cruzadas enquanto buscam saciar os desejos que acometem a humanidade.
Apesar de ser um drama, o filme tem um quê de comédia utilizando-se, para isso, exatamente de características resultantes de aspectos dos quais a maioria dos cineastas reclama: a falta de verba. 3 Efes teve o mísero investimento de 40 mil reais, tendo sido gravado em digital para poupar os custos com a película e utilizando-se de equipamentos precários de iluminação. Além disso, Gerbase optou por não colocar atores com muita fama no seu filme, elegendo artistas locais, que ensaiaram dois meses antes de gravarem as cenas. Ademais, o filme se utiliza de recursos gráficos que comprovam ainda mais a incorporação de uma estética simples e transforma isso em uma qualidade da obra.
Entretanto, o que é um tributo pode se transformar em falha dependendo do espaço que o espectador escolher para se apropriar do produto. Assim, a grande inovação de lançamento do filme põe a prova sua estética simplista. 3 Efes quebra as tradicionais janelas de exibição, sendo lançado simultaneamente no cinema, na internet, na televisão e em DVD, sem nenhuma adaptação de linguagem. Com isso, relega a preocupação com o público, que tem sua recepção prejudicada em alguns desses meios, exatamente pela ausência da adequação. A idéia é ótima, pois nada melhor do que utilizar mais de uma forma de exibição para potencializar o público e a vida útil do filme. Porém, embora a experiência tenha seu valor pela ousadia, ainda deixa muito a desejar na compatibilização das etapas da cadeia produtiva de produtos audiovisuais e na utilização das ferramentas dos novos meios de exibição, especialmente a internet.
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Este filme foi lançado em dezembro do ano passado. Entretanto, devido a seu baixo número de espectadores, creio que ainda vale a pena falar sobre ele. Pretendo escrever algo novo para postar ainda hoje. Porém, devido a minha falta de tempo, por enquanto, fica esta dica.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Um nação à beira do abismo

O presidente Evo Morales tem quase 70% de apoio da população, mas ainda assim parece que está a ponto de cair a qualquer momento ou, pelo menos, de mergulhar seu país numa profunda crise. A minoria contrária a seu governo não aceita sua presença no comando do país e vem prejudicando a economia boliviana após ter dado início a manifestações que assolam as cidades onde a presença da oposição é maioria. Embora Morales tenha cometido algumas gafes na relação com seus opositores, estes parecem estar condenando-o a não governar seu próprio país. O paradoxo é que se a oposição estivesse no governo não teria apoio de grande parte da população para poder governar. Assim, parece que o país está imerso em um jogo político que prejudica toda a população, inclusive os que deram início às rixas.
Eleito democraticamente com 53,74% dos votos, contra 28,59% de apoio a seu opositor Jorge Quiroga, Evo Morales tem maior aprovação agora do que quando foi eleito. O referendo realizado no mês passado, confirmando o presidente boliviano no cargo, demonstrou apoio de 67,4% a Morales. A adesão a ele não é surpreendente, eis que é o primeiro índio a chegar à presidência em 183 de independência em um país em que mais de 70% da população é composta pelas duas principais etnias indígenas do país, quéchuas e aimorás, e mestiços. Menos de 30% da população é branca, de origem européia, mas é exatamente essa parte que constitui a classe dominante, que se concentra nas grandes áreas de oposição a Evo. O problema é que é exatamente em algumas dessas áreas e na mão da classe dominante que se situa a riqueza econômica do país.
Para piorar, o enorme apoio não é suficiente para conformar a minoria opositora, e parece estar colocando a Bolívia em um dos momentos de maior enfrentamento político desde a democratização em 1982, que foi antecedida de quatro anos de golpes militares e sucessivas trocas presidenciais. A crise começou no início do governo Morales, mas ganhou força nas últimas semanas, quando opositores fecharam os acessos aos principais centros econômicos do país e invadiram prédios da administração federal. Um dos motivos do enfrentamento é a constituição aprovada pelo governo federal em dezembro do ano passado sem a presença da oposição. O projeto constitucional de Evo esbarra no plano de autonomia empreendido pelas regiões que têm a oposição no governo e precisa ser submetido a um referendo para ser validado.
O referendo do mês passado que manteve Morales no poder também manteve os governadores opositores submetidos à consulta, o que os concede maior força para solicitarem a autonomia. Provavelmente não seria bom para a nação, cuja riqueza se concentra justamente em algumas dessas pequenas áreas, o que provavelmente condenaria o restante ao empobrecimento. Entretanto, parecem poucas as soluções viáveis para pôr fim à situação. É provável que a oposição não saia vitoriosa, pois, além da aprovação interna ao seu governo, o presidente boliviano tem apoio de praticamente toda a América Latina. Não foi à toa que União das Nações Sul-Americanas (Unasul) reuniu seus integrantes nesta terça-feira, no Chile, para encontrar uma solução para o impasse na Bolívia, e rechaçou a conduta da oposição. Todavia, se não ceder em busca do diálogo com os oposicionistas, conselho dado pelo presidente Lula e rejeitado por Morales, a Bolívia pode ser vítima de uma hecatombe cada vez maior e sem previsão de fim. Se o diálogo não levar a lugar nenhum, talvez seja necessária uma maior intervenção de outros países, o que possivelmente seja o que desejam ansiosamente os lá de cima.

quarta-feira, setembro 10, 2008

Rejeição

Parado com um livro na mão, ignoras minha presença. Olho-te sem desviar meus olhos por um segundo sequer. Não digo nada. Não pronuncio uma única palavra. Finges que não percebes minha presença. Pensas que não sei? Corrôo-me de raiva porque teu olhar não transpassa o soslaio. Quando te ignorava, me dissecavas intrigadamente. Agora, que tento desvendar-te, finges que não me vês. Deixa de lado as letras, as palavras, as frases... por mim! Não? Gozarei a busca por algo que me atraia mais. Desfrutá-lo em paz. Teu livro.
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Por que ficas aí parada, olhando-me sem dizer nada? Me desconcentras. Não vês? Antes, não me olhavas assim, deste jeito, e eu não te olhava assim, de soslaio. Perdes teu tempo e te desgastas ao tentar despir-me sem nem mesmo tocar-me. O que queres que não te dou? O que desejo dar-te, mas não consigo? Por que não te olho como antes te olhava, como me olhas agora, como antes não me olhavas? Será por que não te desejo mais? Não sei. Apenas não quero olhar-te. Deixa-me. Há de haver algo que te atraia mais. Deixa-me em paz a dissecar meu livro.
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Sei que estou atrasada, mas pelo menos cheguei. Em breve, mais comentários sobre a cidade potiguar magnífica que visitei. Belezas e infortúnios.

quarta-feira, setembro 03, 2008

Ser jornalista em Natal-RN

Já deveria saber há um bom tempo, mas só agora me dei conta de que sou, de fato, jornalista. Ganhei uma semana de folga para vir para o XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, que está sendo realizado em Natal-RN. Poderia me dedicar exclusivamente à programação do congresso, fazer festa ou ir para a praia todos os dias, mas não. Optei por outras coisas. Bem, claro que cheguei e fui para a praia no primeiro dia, pois precisava espantar o cansaço depois de apenas três horas de sono e seis intermináveis de vôo. É curioso que tenha sido nessa minha primeira caminhada que já vi logo uma matéria me saltando aos olhos. A orla da Praia dos Artistas, uma das praias urbanas de Natal, havia desabado no dia anterior. Em pouquinhos minutos, já havia duas televisões cobrindo o ocorrido acerca de um metro de distância dos meus olhos. Em seguida, descobri que a Assembléia está intensificando as discussões sobre a concorrência do sal chileno ao sal potiguar, que representa 95% do consumo interno brasileiro. Mais tarde, abri o jornal Tribuna do Norte, um dos principais aqui da região, e já fui logo me deparando com avanços pelo fim do nepotismo nos três poderes. Já fui visualizando um boletim de rádio se materializando para a Agência Radioweb, onde trabalho, sobre o tema, que é de interesse de todo o Estado e, de modo geral, inclusive do país. Bom, não resisti. Foi mais forte do que eu. Tive que ligar para os meus colegas e chefes para oferecer a pauta. Não sabia nem se conseguiria entrevistar alguém ainda, mas daria um jeito.... e dei. Liguei para o TCE e, sei lá se por competência ou sorte, consegui marcar uma entrevista com o presidente da corte para uma hora depois, e ainda acompanhada da TV Tropical, representante local da Record, cuja repórter me auxiliou em algumas informações sobre as quais eu não havia tido acesso por não ter estado perto do caso anteriormente. Rapidinho estava com uma pauta e uma entrevista na mão. Bem, alguns podem me achar louca por ser tão prestativa em querer trabalhar enquanto poderia aproveitar o pouco tempo que me resta extra-congresso para desfrutar de uma das águas mais cristalinas da costa brasileira como vocês podem ver aí na foto. Entretanto, há um lado bom de trabalhar por pura gana, num lugar teoricamente 100% lazer. Para chegar até o TCE, caminhei cerca de dois quilômetros à beira mar. Suei um pouco na tarde ensolarada dessa terra extasiantemente quente, é verdade, principalmente depois de subir a "famosa" Ladeira do Sol. Entretanto, depois do sol, da rampa e de 30 minutos de espera, vi como é magnífico trabalhar aqui no TCE. A foto da praia que vocês vêem aqui postada foi batida diretamente do sexto andar do edifício. Depois, já no décimo segundo, no gabinete presidencial, meu colega fotógrafo bem que tentou representar as tardes difíceis que o senhor Paulo Roberto Chaves Alves passa na corte, mas infelizmente a claridade do sol potiguar não o permitiu. As dores de cabeça podem ser muitas, mas com essa vista no final de todos os expedientes, me desculpem, mas não há estresse que resista. Porém, não tenho inveja. Pelo menos não durante meus dias por aqui, em que meu "escritório" de trabalho pode ser muito bem representado pela foto ao lado. Se for sempre assim, eu faço quantas pautas me permitirem com o maior prazer do mundo. Se eu cansar... atravesso a rua.... dou um mergulho e, depois, volto ao trabalho!

terça-feira, agosto 26, 2008

Futilidades do Festival de Cinema de Gramado

Apesar de elogiadíssima, tanto por organizadores como por participantes, a 36ª edição do Festival de Cinema de Gramado, que deveria ser centro de discussão sobre cultura e arte, cedeu espaço para o estrelismo e a tietagem, a exemplo do que se costuma verificar em eventos do tipo. A organização tem feito sua parte para colaborar com o debate acerca do tema proposto, mas o público, de modo geral, parece estar muito mais interessado nas celebridades do que no conteúdo que as acompanha.
A edição deste ano, que começou no dia 10 e terminou no dia 16 deste mês, desde o início já superou o público dos anos anteriores, atraindo, no dia da abertura, um número de pessoas equivalente ao normalmente registrado em seus encerramentos. Em parte, o ímã pode ter sido o filme “Nome Próprio”, de Murilo Salles, cuja atriz que interpreta a protagonista Camila, Leandra Leal, era uma das favoritas ao Kikito de melhor atriz da mostra brasileira. Nesse caso, é provável que o público tenha sido atraído mais pela presença da Leandra do que pelo próprio filme. Entretanto, quem parece ter sido realmente a grande atração do primeiro dia de festival é Renato Aragão (o Didi), que compareceu ao evento para receber uma homenagem especial, a quem inclusive o presidente do evento, Alemir Coletto, atribui à grande movimentação do dia 10 em Gramado.
Infelizmente, não tive a oportunidade de acompanhar o dia-a-dia do festival para verificar se a empolgação com as discussões acerca do cinema era tão grande quanto a persistência para conseguir uma foto com um ídolo. Porém, tive a honra (ou a decepção) de cobrir a cerimônia de premiação do evento, o que me pareceu um desserviço aos gênios da sétima arte, bem como uma tremenda falta de consideração com seus fãs.
Primeiramente, Eryk Rocha (o filho do Glauber!) declarou que prêmio não é importante porque depende do júri, então, se muda o júri, muda completamente o viés da premiação. E, óbvio, tem toda a razão, pois embora o júri seja, teoricamente, composto por pessoas que sabem muito sobre cinema, sempre existe a subjetividade, sempre existem características que parecem melhores para alguns e piores para outros. Segundo Eryk, os festivais são mais importantes para mostrar o trabalho e estimular a discussão. Já Murilo Salles afirmou que ganhar um Kikito é mais importante para o seu coração do que para a sua carreira, pois esta já está muito bem consolidada. Então, qual a moral da premiação? Não seria um estímulo à adulação pura e simples?
Por outro lado, dezenas de jornalistas aglomeravam-se, empurravam-se, acotovelavam-se em busca de declarações tão óbvias quanto patéticas: “o que você achou de ter ganhado o Kikito?”. Essa pergunta já foi respondida quando os artistas subiram no palco para receber o Kikito em mãos. Por outro lado, alguém acharia ruim ser premiado? Enquanto isso, dezenas de fãs espremiam-se tentando roubar as celebridades dos jornalistas para tirar fotos, para dar um beijo, para conseguir um autógrafo, enfim, para bajular de todas as maneiras possíveis. Cansados e, provavelmente, irritados, eles tentavam sair pouco a pouco pelo imenso caminho coberto pelo tapete vermelho que leva até a frente do Palácio dos Festivais. Livravam-se de dezenas de fãs e jornalistas para se depararem com centenas de pessoas, cuja maioria apenas gritava achando que todos que passavam pelo tapete eram famosos, não importa por quê. Se por um lado isso parece tudo uma grande bobagem, por outro, é papel do artista lidar com a tietagem e a bajulação, mas alguns vão saindo de fininho para não parecerem arrogantes. Leandra Leal foi um destes. A atriz ficou pouco mais do que quinze minutos após a solenidade para dar atenção a quem a requeria. Sentia-se mal, segundo informou uma produtora que, após levar Leandra, tentava arrastar Murilo Sales com o maior dos seus esforços, enquanto ele tentava manter a simpatia e parava para falar com todos que o acenavam. A fama não é fácil, mas muitas vezes o reconhecimento depende dela, embora com ele venham milhares de outras coisinhas chatas, banais, fúteis.
Por isso tudo, acho essa premiação uma grande bobagem, ao contrário do que presumo ser o restante do evento. Na minha restrita cobertura dos outros dias, feita por telefone, o espaço parecia bem mais estimulante à discussão. Realmente não sei o que dizer do público, pois não o vi e tampouco o ouvi. Creio que assim como o artista molda o público, o público também molda o artista, por isso espero que não tenha sido por nada que as pessoas tenham se dirigido às salas de exibição e que, pelo menos no interior dos espaços de debate, o público tanha transpassado a futilidade da maioria das pessoas que se aglomeravam em volta às grades que protegem o tapete vermelho, entupindo-se de vinho, fondue e chocolate e gritando para cada alma que viam passar.
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É lastimável que esse tipo de tietagem estenda-se para setores ainda mais importantes, como a política. O Jornal do Comécio de hoje divulgou que, ao meio dia de ontem, a candidata à prefeitura de Porto Alegre Manuela D'ávila mal conseguia debater com seus eleitores devido ao grande número de abordagens para fotos e autógrafos. Depois, todo mundo reclama do empobrecimento do conteúdo das propagandas e debates políticos. Do mesmo jeito que com os artistas, o público molda os políticos, assim como estes moldam o público. O agravante aqui é que eles nos representam, diferentemente dos artistas. Conseqüentemente, deveríamos exigir mais que sejam nosso reflexo, e aumentar a vaidade deles não colabora em nada.
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OBS: Devo a minha inspiração a este texto ao Rafael Cortez, repórter do CQC, que, em seu blog, escreveu um texto bastante reflexivo sobre a relação público-artista. Se puderem, dêem uma conferida. O link está na lista de blogs e sites que eu indico.

sexta-feira, agosto 22, 2008

Alucinação

Marcelo saiu de casa para a festa mais cedo do que o normal naquela noite de sábado. Estava desesperado porque não lhe restava nenhum resquício de crack em sua casa. Passou na boca mais próxima e comprou o suficiente para se entorpecer durante toda a noite. Estacionou o carro no canto mais escuro que havia perto dali. Fumou sem nem saber por que fumava. Antes se drogava com razão, ou, pelo menos, via algum motivo, algum sentido naquilo. Agora não via mais nada, não havia pretexto algum. Apenas deseja mais do que qualquer coisa aquela pedra, e seria capaz de tudo para consegui-la. Fumou até acreditar que era a pessoa mais excitada do mundo. A droga era melhor que sexo para ele. Desejava mais a pedra do que a loira mais gostosa do mundo. Não trocaria uma tragada por uma chupada por nada. Quando estava quase gozando de excitação, ligou o carro e saiu em direção à boate. Porém, não passou da segunda quadra. De fato, teve a gozada mais gostosa da sua vida. Ela foi tão, mas tão forte e alucinante que Marcelo delirou por alguns segundos. O bastante para chocar o carro contra um poste a 140 quilômetros por hora.
Era uma hora da madrugada quando o telefone tocou na casa de Lucas.
- Alô.
- Cara! O Marcelo meu... O Marcelo se matou! O Marcelo se matou!
- Quem tá falando?
- Lucas?
- Não. É o Carlos, pai dele. Quem tá falando?
- É o Vinícius. Por favor, avisa o Lucas que o Marcelo acabou de enfiar o carro num poste.
- Espera. Vou chamar ele.
Mas Vinícius já tinha desligado. Carlos caminhou até a porta do quarto de Lucas, mas não teve coragem de despertar o sono do filho com aquela notícia bombástica. Decidiu esperar a manhã chegar.
Do outro lado da porta, Lucas estava sentado na janela do seu quarto no décimo primeiro andar. Já sabia o que havia acontecido, pois atendeu o telefone no mesmo momento que seu pai e escutou todo o recado de Vinícius. Enquanto suas lágrimas escorriam incessantemente rosto abaixo, Lucas acendia o décimo baseado do dia. Simplesmente não sabia o que fazer. Estava acometido pela maior tristeza que já havia sentido em toda sua existência. Precisava acabar com ela de qualquer jeito. A melhor coisa a fazer era ligar para Joana. Fumariam e trepariam durante toda a madrugada sem um segundo de trégua. Joana era uma máquina. Esperou seus pais dormirem, pegou o carro e foi buscá-la. Passaram na boca mais próxima e compraram erva suficiente para se entorpecerem durante toda a noite. Estacionaram o carro no canto mais escuro que havia perto dali. Apesar de desejar mais do que nada, meter naquela loira magnífica que estava ao seu lado, não podia fazê-lo sem antes se entorpecer. Precisava do baseado. Ele abria a mente, o deixava mais sensível, aumentava seu prazer, melhorava 100% a qualidade do sexo. Sabia que Joana pensava o mesmo. Detonaram um baseado e Lucas não agüentou esperar para sair da dali. Forçou a mina a ficar de quatro no banco de passageiro deitado e fez tudo o que desejava. Ela resistia, mas ele nem notava. Quando atingiu o ápice de sua excitação, caiu para o lado e apagou de cansaço. Joana, que não tinha chegado onde queria, indignada, foi embora. Mas, na verdade, Lucas fingia. Não dormia. Tinha nojo daquela mina. Não tinha acabado com sua tristeza e não suportava mais nenhum segundo estar com alguém que não era capaz de livrá-lo dela. Esperou alguns minutos para ter certeza de que Joana já estava longe. Acendeu outro baseado, ligou o carro e voltou para casa, fumando doidamente. Do seu quarto, no décimo primeiro andar do edifício onde morava, olhava, vidrado, para a calçada lá debaixo. Lembrou-se de Suzana. Precisava de alguns minutos na companhia daquela garota adorável. Mas será que ela ainda se importava com ele, mesmo depois de dois anos de seu sumiço? Ainda se lembraria dele? Não custava tentar.
- Alô.
- Suzana?
- Eu...
- Su, é o Lucas.
- Oi, Lucas. Quanto tempo. Tudo bem?
- Estou ligando às quatro horas da madrugada para uma pessoa com quem não falo há dois anos. O que achas?
- O que houve?
- Preciso conversar e não encontrei ninguém mais adequado que tu.
- Que tu tá fazendo?
- Sentado na janela do meu quarto, fumando um baseado e olhando a ausência de movimento que toma conta da calçada lá embaixo.
- ...
- Meu melhor amigo se matou.
- Que? O Marcelo? Como?
- Bateu o carro contra um poste, o desgraçado. Deve ter fumado crack até não poder mais.
- Não fica assim... ele se drogava loucamente... tu já sabias que era difícil não acontecer nada com ele. Ele estava louco pelo crack, Lucas. Era a maior paixão da vida dele...
- Não. Era a maior ilusão da vida dele, obsessão da vida dele. Era tão ruim que já tinha até perdido o sentido.
- Tu ainda tá fumando?
- Tô. É isso que me irrita. Eu já cheirei, já tomei bala, já tomei ácido, já fumei crack... mas nunca fiquei viciado. Sempre só experimentei, sempre gostei de experimentar, mas parei com tudo. Só fumo maconha agora, que tu sabes que é leve e me faz bem pra caralho. Eu estudo melhor quando estou chapado, eu penso melhor, eu sou uma pessoa melhor...
- Será?
- É um filho da puta, cara! Eu não posso suportar isso. É demais para mim. Eu ensinei o cara a dirigir. Eu acendi o primeiro baseado dele, eu mostrei toda a vida da perdição pra ele, mas eu saí e ele não.
- Lu...
Lucas chorava como criança e nem ouvia o que Suzana falava.
- Que que eu faço, Suzana?
- Tu ainda tá fumando na janela?
- Tô. Por quê?
- Quantos tu fumou?
- Sei lá, Su. Meu amigo se matou e tu tá preocupada com a quantidade de maconha que eu fumei?
- Sai da janela, Lu. Por favor.
- Pra quê? Tô admirando a beleza da monotonia da madrugada dessa cidade.
- Posso ir aí conversar contigo?
- Não. Já vi que não vais me arrancar esta dor.
- Ninguém vai, Lu.
- ...
- Lu?
- ...
- Lucas? Lucaaassss!!!!!!!!!

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Uma vez me disseram, ao ler este texto, que eu tenho uma visão deturpada dos drogados. Pode ser, mas não estou a fim de entrar na onda para tirar a prova. Pelo menos eu tenho o álibi de que este conto é inspirado em um fato real.

sábado, junho 28, 2008

Caminhava todas as manhãs em direção à praça. Sentava sempre no mesmo banco, posicionado exatamente em frente a um ponto de táxi. Chegava sempre cinco minutos antes de Pedro. Jogava pedaços de pão sempre do mesmo tamanho para as pombas, intercalados por um mesmo espaço de tempo para que não terminassem antes de presenciar toda a cena. Pedro saía todos os dias às 7h30min de um prédio localizado na frente da praça. O único taxista que estava no ponto àquela hora da manhã não tirava os olhos do menino desde o momento em que ele colocava a mão na maçaneta da porta. Pedro atravessava a rua em direção ao homem que lhe esperava. Era praticamente uma criança. Devia ter uns 13 anos. Os cabelos bagunçados aparentemente de forma intencional adornavam seu tipo esguio. A franja caída para o lado escondia seus olhos ainda inchados de sono.
— Vamos menino! Temos apenas meia hora até o início da tua aula! – afirmava freqüentemente o taxista diante da lerdeza matinal de Pedro.
Abandonava as pombas por um momento e dedicava toda a atenção ao destino do carro laranja, que nunca alterava seu percurso. Em 45 minutos, o veículo voltava e parava exatamente no mesmo lugar. Pensava, enquanto voltava a alimentar as pombas... Por que Pedro estudava tão longe? Havia centenas de escolas próximas a sua casa.
Um dia, esperei o garoto retornar da escola. Às 12h30min, Pedro vinha caminhando em direção ao prédio de onde sempre saía. Cabisbaixo, o menino direcionava o olhar para o taxista, que agora nem o olhava. Desejei a atravessar a rua em direção ao garoto, mas minhas pernas me impediram. Senti-me aliviado.

terça-feira, maio 27, 2008

Evasão ou invasão?

Há muito tempo os raios solares não transpassavam as janelas da velha mansão. A sensação de abandono que transmitia à cidade afastava os habitantes de seu entorno. As cortinas escuras nunca eram abertas. A trepadeira, que decorava a frente da casa, já tomava conta das paredes laterais e das aberturas por falta de poda. No centro da imensa sala fria e escura, encolhia-se um ser de quem ninguém mais se recordava da existência. Joaquim lutava, com a pouca força que lhe restava, para driblar o barulho dos morcegos que disputavam espaço no forro da casa. À noite, o barulho de seus movimentos era ensurdecedor. Diariamente, debatiam-se em busca de saída para a noite do centro sujo e abandonado da cidade. Confundiam-se. Saiam por buracos desenhados por cupins na madeira do forro e acabavam dentro da velha casa. Perdiam-se no interior da sala – ainda mais escura e melancólica do que à noite da cidade. Buscavam desesperadamente fugir do clima aterrorizante da mansão. Joaquim acordava com o zunido dos bichos. Arrastava-se até a porta e a abria por rápidos segundos. Espantava da residência as únicas e poucas vidas que ainda existiam naquela mansão. Exatamente como fizera há alguns anos.

quinta-feira, abril 17, 2008

Em processo de criação. Em breve, disponível.

Matheus estudava no site www.thereallife.com. Não é possível descrever a escola materialmente, pois não se constituía de elementos táteis. Tinha aula com seres de diferentes partes do universo sem sequer sair de casa. Numa segunda-feira do mês de maio de 2997, abandonou os raios de luz emitidos pelo equipamento e foi brincar no mundo real. Tomou um foguete e dirigiu-se a Saturno. Chegando lá, não havia nenhum ser na rua e a graça estava na virtualidade. Ligou o laptop e percebeu que não faria diferença ficar ou retornar.
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O primeiro miniconto mais ou menos decente que escrevi. Texto baseado no primeiro parágrafo do "Conto de Escola" de Machado de Assis.

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Do fétido ao cheiro ideal... a qualquer custo

Um baixinho, cuja aparência repugnante passa despercebida às pessoas que com ele cruzam na França do século XVIII, ganha fama no país através de um raro dom. Nascido em meio ao odor putrefato da Paris da época, Jean-Baptiste Grenouille tem como dádiva, ou quiçá castigo, o olfato terrivelmente aguçado. As mãos de seu criador, o escritor Patrick Süskind, farão o francesinho deparar-se com a tormenta que carregará até jazer: a ausência de seu próprio cheiro. A perturbação do protagonista desencadeia toda a história do romance O Perfume, que consagrou o alemão com sua publicação em 1985 e sua posterior tradução para 42 idiomas.
Tendo escrito previamente só a peça de teatro nomeada O Contra-Baixo e o livro de contos Um Combate e Outras Histórias, Süskind faz Grenouille perambular pelas cidades francesas de Auvergne, Montepellier, Grasse e, claro, a capital do país em busca de um cheiro que o faça ser notado pelos outros. Ao contrário do que o início do enredo possa sugestionar, seu desejo não é tornar-se um consagrado perfumista em meio a “boa dúzia” deles, que buscam acabar com a podridão que assolava a Paris da época. Sua intenção é apenas encontrar um odor para si mesmo; e sua cobiça é tamanha que seria capaz de qualquer coisa para atingir seus anseios. Para isso, o habilidoso rapaz insere-se na vida de um frustrado perfumista, passando a trabalhar como seu aprendiz. Grenouille busca arduamente desvendar todos os métodos utilizados para fabricar as mais diversas essências; fabricação esta descrita perspicaz e detalhadamente por Süskind.
Aliás, não são exclusivamente os pormenores do autor que qualificam sua obra. O Perfume é dotado de um ritmo que já tem início logo nas suas páginas mais primordiais e que permanece, através da repetição e dos jogos de palavras, durante toda a trajetória angustiante do protagonista, até o desvendar dos mistérios desencadeados ao longo da trama. Ademais, tem-se outra percepção do mundo através da obra, pois tudo o que normalmente percebemos através da visão, é proposto que analisemos por meio de outro sentido, que costumamos utilizar em freqüência consideravelmente menor. Através de odores que vão dos mais fétidos aos mais prazerosos, o alemão nos descreve minuciosamente a sociedade francesa da época, nos revelando pouco a pouco o desenrolar da trama, cujo final consegue ser ainda mais inusitado do que a idéia perpetrada pelo autor.