Sempre tive um pé atrás em relação ao trabalho de Woody Allen, ainda que ele seja um dos mais reconhecidos diretores estadunidenses atuais. Porém, tenho que admitir que não se trata de uma resistência fortuita. Quando descobri que ele existia, em tempos remotos, resolvi assistir “Poderosa Afrodite” (1995). Minha primeira reação foi de indiferença, pois não achei o filme ruim, tampouco espetacular. Resolvi tentar mais uma vez e vi “O que você sempre quis saber sobre sexo, mas tinha medo de perguntar” (1972), então quase desisti de tentar gostar de Woody Allen. Mas como não tinha visto seus principais filmes, me vi obrigada a relevar. Assisti a mais alguns, mas eles apenas amenizaram minhas restrições ao cineasta, até que Woody lançou “Match Point” (2005), e tudo mudou. Então, resolvi ir ao cinema assistir seu novo “Vicky Cristina Barcelona” e, finalmente, descobri qual era meu problema com o Woody Allen. Não é que ele não seja um bom roteirista ou diretor, só não consigo suportar a presença dele por mais de dez minutos na tela. Basta tirá-lo de cena e seus filmes ficam o máximo, ainda mais na presença do excelente elenco que compõe a história de seu mais recente filme.
“Vicky Cristina Barcelona” conta a história de duas estadunidenses que decidem passar as férias em Barcelona. Vicky (Rebecca Hall) quer aproveitar o período e o local propício para avançar seus estudos sobre identidade catalã. Cristina (Scarlett Johansson) sofre uma profunda crise de identidade e vai tentar encontrar o que procura (ainda que não saiba exatamente o que é) na cidade espanhola. Elas são completamente diferentes e, já no seu primeiro dia de viagem, se deparam com uma situação inesperada e perdem um bom tempo discutindo que caminho seguir. Enquanto uma deseja ir para um lado, a outra quer exatamente o sentido oposto. Então, chegam a um acordo e, em pouco tempo, estão em uma pequena cidade do interior da Espanha na companhia de Juan (Javier Bardem), um pintor cuja vida é guiada totalmente pelas emoções. Juan desperta imediatamente uma profunda atração em Cristina e uma tremenda irritação em Vicky. Os três passam um fim-de-semana conturbado, confuso e mal-resolvido. De volta a Barcelona, Juan e Cristina iniciam um louco romance, o que parece estar satisfazendo imensamente a americana, juntamente com o dom artístico que vem descobrindo durante a viagem: a fotografia. Enquanto isso, Vicky vive um conflito interno a poucos dias de seu casamento com Doug (Chris Messina), que, devido ao trabalho, permaneceu nos Estados Unidos. A narrativa do filme é estável até o momento em que surge na tela Penélope Cruz, interpretando Maria Elena, ex-mulher de Juan. Trata-se de uma pintora de gênio forte, psicologicamente perturbada e que mexe com as emoções não só de todos os outros personagens, mas também dos espectadores. A partir de então, se inicia uma história insana de relacionamentos entre personagens que lidam de forma diferente com razão e emoção, mas que tem em comum a frustração em relação ao amor.
O novo filme do cineasta estadunidense conta uma história que incomoda, perturba e que dificilmente deixa um espectador apático. Por isso, embora resguarde diferenças em relação a suas obras anteriores, o filme traz características já marcantes e recorrentes na filmografia de Woody Allen: a busca por algo incerto, amores mal-resolvidos, reflexão profunda acerca da satisfação/insatisfação humana. Aqui, o diretor foi melhor sucedido na medida em que aborda um tema que está relacionado a sua vida pessoal, sem que, necessariamente, seu personagem seja interpretado por ele mesmo. Todos os atores tiveram atuações brilhantes, principalmente se comparadas à interpretação imutável do cineasta. Woody Allen sempre busca transpassar para a tela suas neuroses e seu pessimismo em relação à vida e, neste filme, parece que o diretor descobriu que isso pode ser feito sem que seus protagonistas sejam absurdamente neuróticos. Assim, filme mixa bastante bem momentos de tensão e graça, em que seus personagens oscilam entre o desfrute das situações prazerosas da vida e a reflexão sobre suas ações e seus desejos – alguns tendendo mais para um lado, outros para o outro. A história fica ainda mais amarrada diante da narração em off que analisa os personagens, dando um toque literário ao filme, e da trilha sonora, que não poderia ser mais apropriada: a música Barcelona, de Giulia y Los Tellarini.
Barcelona é, sem dúvida, uma das personagens da história. Não é à toa sua presença no nome do filme. Muitos criticaram a maneira como a cidade aparece, por evidenciar locais turísticos. Porém, creio que isso é feito de maneira natural na medida em que o filme narra a história de duas turistas, além de Vicky sempre relacionar as localidades a seus estudos catalães. O essencial é que é a cidade quem vai mexer profundamente com as americanas, seja pela presença viva da arte que incita suas emoções, seja pela fuga da rotina, que é totalmente diferente da vida nos Estados Unidos. Tudo isso, adornado por um colorido encantador, incitador de emoções, totalmente à la Espanha, mas completamente diferente de Woody Allen. Um dos pontos mais intrigantes é que, em Barcelona, elas vivem uma fuga da realidade, mas é exatamente ali que são trazidas de volta a ela.
“Vicky Cristina Barcelona” conta a história de duas estadunidenses que decidem passar as férias em Barcelona. Vicky (Rebecca Hall) quer aproveitar o período e o local propício para avançar seus estudos sobre identidade catalã. Cristina (Scarlett Johansson) sofre uma profunda crise de identidade e vai tentar encontrar o que procura (ainda que não saiba exatamente o que é) na cidade espanhola. Elas são completamente diferentes e, já no seu primeiro dia de viagem, se deparam com uma situação inesperada e perdem um bom tempo discutindo que caminho seguir. Enquanto uma deseja ir para um lado, a outra quer exatamente o sentido oposto. Então, chegam a um acordo e, em pouco tempo, estão em uma pequena cidade do interior da Espanha na companhia de Juan (Javier Bardem), um pintor cuja vida é guiada totalmente pelas emoções. Juan desperta imediatamente uma profunda atração em Cristina e uma tremenda irritação em Vicky. Os três passam um fim-de-semana conturbado, confuso e mal-resolvido. De volta a Barcelona, Juan e Cristina iniciam um louco romance, o que parece estar satisfazendo imensamente a americana, juntamente com o dom artístico que vem descobrindo durante a viagem: a fotografia. Enquanto isso, Vicky vive um conflito interno a poucos dias de seu casamento com Doug (Chris Messina), que, devido ao trabalho, permaneceu nos Estados Unidos. A narrativa do filme é estável até o momento em que surge na tela Penélope Cruz, interpretando Maria Elena, ex-mulher de Juan. Trata-se de uma pintora de gênio forte, psicologicamente perturbada e que mexe com as emoções não só de todos os outros personagens, mas também dos espectadores. A partir de então, se inicia uma história insana de relacionamentos entre personagens que lidam de forma diferente com razão e emoção, mas que tem em comum a frustração em relação ao amor.
O novo filme do cineasta estadunidense conta uma história que incomoda, perturba e que dificilmente deixa um espectador apático. Por isso, embora resguarde diferenças em relação a suas obras anteriores, o filme traz características já marcantes e recorrentes na filmografia de Woody Allen: a busca por algo incerto, amores mal-resolvidos, reflexão profunda acerca da satisfação/insatisfação humana. Aqui, o diretor foi melhor sucedido na medida em que aborda um tema que está relacionado a sua vida pessoal, sem que, necessariamente, seu personagem seja interpretado por ele mesmo. Todos os atores tiveram atuações brilhantes, principalmente se comparadas à interpretação imutável do cineasta. Woody Allen sempre busca transpassar para a tela suas neuroses e seu pessimismo em relação à vida e, neste filme, parece que o diretor descobriu que isso pode ser feito sem que seus protagonistas sejam absurdamente neuróticos. Assim, filme mixa bastante bem momentos de tensão e graça, em que seus personagens oscilam entre o desfrute das situações prazerosas da vida e a reflexão sobre suas ações e seus desejos – alguns tendendo mais para um lado, outros para o outro. A história fica ainda mais amarrada diante da narração em off que analisa os personagens, dando um toque literário ao filme, e da trilha sonora, que não poderia ser mais apropriada: a música Barcelona, de Giulia y Los Tellarini.
Barcelona é, sem dúvida, uma das personagens da história. Não é à toa sua presença no nome do filme. Muitos criticaram a maneira como a cidade aparece, por evidenciar locais turísticos. Porém, creio que isso é feito de maneira natural na medida em que o filme narra a história de duas turistas, além de Vicky sempre relacionar as localidades a seus estudos catalães. O essencial é que é a cidade quem vai mexer profundamente com as americanas, seja pela presença viva da arte que incita suas emoções, seja pela fuga da rotina, que é totalmente diferente da vida nos Estados Unidos. Tudo isso, adornado por um colorido encantador, incitador de emoções, totalmente à la Espanha, mas completamente diferente de Woody Allen. Um dos pontos mais intrigantes é que, em Barcelona, elas vivem uma fuga da realidade, mas é exatamente ali que são trazidas de volta a ela.
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Trailer: