segunda-feira, outubro 20, 2008

Ousadia prejudica compreensão de “Redemoinho-Poema”

A obra da escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol compõe a atmosfera poética que permeia o filme “Redemoinho-Poema”, de Gabriel Sanna e Lúcia Castello Branco, apresentado na segunda e na terça-feira da semana passada, na Usina do Gasômetro e no Santander Cultural, respectivamente, na mostra de longas-metragens do CineEsquemaNovo. O filme segue o estilo cinematográfico alternativo que caracteriza o festival em que foi apresentado e não se trata de um filme de fácil compreensão, tendo um forte caráter reflexivo ao passar para a tela a vida e a obra de Maria Gabriela. Embora seja lento, não se trata de um filme cansativo, pois traça, com eficácia, sua reflexão poética, mixando uma fotografia belíssima, trechos de entrevistas e citações de poesia numa espécie de documentário cuja forma não é nada convencional.
“Redemoinho-Poema” integra a trilogia nomeada “Os Absolutamente Sós”, que teve início com o filme “Língua de Brincar”, exibido no CineEsquemaNovo do ano passado. Partindo da poesia da autora portuguesa, o filme percorre locais por onde ela passou e que, de alguma forma, influenciaram sua obra. Através de paisagens melancólicas, buscam recriar a solidão vivenciada por Maria Gabriela. Na tela, são intercaladas imagens com bastante movimento – que, na maioria das vezes, simbolizam viagens – e longos planos em que a câmera permanece parada numa mesma imagem – normalmente nos pontos mais reflexivos do longa. As entrevistas têm um caráter documental, mas também artístico, pois não aparecem através de enquadramentos convencionais. Além de apresentar a busca do entrevistador pelo entrevistado nem sempre alcançada (o que não é comum em documentários tradicionais), o filme ora apresenta a câmera focando a face do entrevistador e do entrevistado, ora vagando por expressões corporais ou espaços representativos das palavras ditas. Dessa forma, as declarações transpassam os planos onde têm origem e terminam em paisagens que promovem a meditação ou em legendas postas sobre a tela negra, identificando lugares ou fases da vida da escritora. Assim, a montagem é a grande responsável pela fluidez do filme.
Entretanto, a história acaba se tornando incompreensível em alguns momentos exatamente por causa da ousadia estética com que é retratada. Gravado basicamente em Portugal e na Bélgica, há passagens, no filme, em francês, português de Portugal e português brasileiro. A opção de utilizar as legendas o mínimo possível limita sua compreensão, diante da falta de domínio de algum dos idiomas. A história também acaba prejudicada em certo aspecto na medida em que somente revela sobre o que está de fato falando lá pela metade do filme. Assim, o fato de se tratar de um documentário parece ser relegado em alguns momentos do filme. Embora possa ser seu objetivo mesclar características documentais e ficcionais, a maneira como isso aparece na tela prejudica sua inteligibilidade.
“Redemoinho-Poema” certamente não foi o melhor longa-metragem exibido no CineEsquemaNovo deste ano, mas também esteve bem longe de ser o pior deles. Apesar de perder em conteúdo devido a suas experimentações, enriquece a linguagem documental exatamente por não se ater em excesso a ela. Quem sabe no último filme da trilogia os diretores encontrem a dosagem certa, se é que ela existe.
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Na foto, Gabriel Sanna.
Foto de Aline Duvoisin.

Um comentário:

Anônimo disse...

Si, probabilmente lo e