segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Agora é assim que se faz política no Rio Grande do Sul

Depois de permanecer calada por dois dias, sem mexer sequer uma palha para explicar à população as acusações apontadas pelo Partido Socialismo e Liberdade contra o seu governo, Yeda Crusius resolveu se manifestar. Ignorou toda a imprensa gaúcha, que ansiava por uma palavra sua, para conceder, na sexta-feira, entrevista a um veículo de alcance nacional (Agência Estado) e mostrar (para todo o Brasil) como uma governadora deve se portar em relação a denúncias da oposição.
Na quarta-feira, o PSOL chamou a imprensa para uma entrevista coletiva em que apresentou declarações fortíssimas contra o governo estadual. Segundo integrantes da legenda, eles tiveram acesso a provas – que estariam sob domínio do Ministério Público Federal – que fazem parte do processo que investiga o desvio de R$ 40 milhões do Detran e que comprovariam o envolvimento de integrantes do governo estadual na fraude. Apesar disso, Yeda acha que não deve explicações, pois confia na capacidade de discernimento do povo, que, segundo ela, não gosta de atitudes covardes como essas (qualificando as ações do PSOL). A governadora ainda comentou que isso “é uma seqüência da campanha dos outdoors [realizada pelos sindicatos], à qual o povo, que está ultrajado por essas acusações, reagiu indignado”. Eu, e creio que muita gente, gostaria que Yeda mostrasse essas reações indignadas da população em relação às “difamações contra o governo” porque, por enquanto, só o que vejo são manifestações de decepção e/ou desconfiança em relação ao governo do Estado.
Não bastasse isso, Yeda ainda disse: “Trata-se de uma técnica usada para tentar desviar o foco do bom momento do governo. Colocamos as contas em dia...”. Entretanto, a declaração foi feita exatamente no mesmo dia em que foi anunciado déficit nas contas públicas do mês de fevereiro. Segundo o secretário estadual da fazenda, Ricardo Englert, deverão faltar R$ 142,1 milhões para pagar as contas deste mês, pois a arrecadação dos vinte primeiros dias do ano ficou R$ 20 milhões abaixo do que esperado. Diante disso, só é possível chegar a uma conclusão: ou a governadora não sabe o que se passa no próprio governo ou suas declarações não passam de demagogias, pois, enquanto elogia a inteligência do povo, nas entrelinhas, subestima sua capacidade de avaliação de discurso.
Para piorar, depois de acusar o PSOL de rebaixar o nível da discussão política, afirmando que “parece que eles, por não terem o que dizer, usam armas que não são próprias da política gaúcha”, Yeda declarou não estar em busca de provas para comprovar sua inocência porque sua mãe lhe ensinou “a não responder a provocações de bêbado de porta de bar”. Devo então concluir que é este o modo decente como se deve discutir política no Estado. Não é o que acha o PSOL, que está avaliando a possibilidade de ir à justiça contra as palavras da governadora – que, segundo Luciana Genro, deputada federal pelo partido, não passam de ataques morais. Para a deputada, Yda “está se demonstrando desequilibrada e talvez, antes de ser deposta do governo, tenha que ser interditada porque parece que não tem mais nenhum equilíbrio para fazer o debate político no Estado”.
Para não faltar mais nada, Yeda acusou o PSOL de requentar acusações para utilizar a imprensa como massa de manobra para propósitos golpistas, visando às eleições de 2010. Já é sabido que na proximidade de anos eleitorais cada um utiliza as armas que tem em favor próprio. Pois foi exatamente nesta obviedade que a governadora pisou na bola. Se o governo pensava em entrar na justiça contra as acusações do PSOL, agora deu a oportunidade de o partido também ter um motivo para querer enfrentá-lo judicialmente. No caso, a vantagem parece ser do PSOL, que – além de ter como álibi o suspeito suicídio de uma testemunha importante da fraude no Detran (ex-assessor do governo gaúcho em Brasília, Marcelo Cavalcante) – dependendo das circunstâncias, poderá solicitar na justiça que o Ministério Público apresente as provas de um processo que está em sigilo.

domingo, fevereiro 22, 2009

A pedido

* Para que ninguém reclame, aí está meu post bilingue.

* Para que nadie si queje, ahí está mi post bilingüe. Por favor, amiguitos castellanos, probablemente he escrito mal alguna cosa... si pueden, corríjanme.

El Nido Vacío reflexiona imaginación humana en momentos de conflicto

El cine argentino actual se ha demostrado especialista en pasar para la pantalla dramas corrientes de la clase media urbana, lo que por una razón aparentemente inexplicable ningún cineasta brasileño logró hacerlo todavía. La película más reciente de Daniel Burman, El Nido Vacío, es más un ejemplo de esa especialidad argentina, pero con una particularidad más. El director ya ha manifestado hace algún tiempo su habilidad en relatar historias que ponderan problemas familiares universales. La diferencia de su nueva obra es que – al contrario de sus anteriores lanzadas en Brasil, El Abrazo Partido (2003) y Derecho de Familia (2006), que tratan de personajes que tienen problemas ligados a la figura paterna – ahora quien tropieza en dificultades es el propio padre.
Leonardo (Oscar Martínez) es un dramaturgo alrededor de los cincuenta o sesenta años que parece perder sus objetivos a partir del momento en que sus hijos dejan la casa. Mientras su esposa, Martha (Cecilia Roth), retoma antiguos proyectos, manteniéndose atareada con otras actividades en lugar de la ausencia de los hijos, Leonardo parece inconforme, intentando, en cada una de sus ocupaciones diarias, revivir un pasado que todavía no existe. La manera divergente como encaran esa nueva fase de la vida empieza a transformarse en un obstáculo a su matrimonio, que el protagonista aparenta más buscar motivos para destruir que para recuperar.
El tema es aparentemente banal, pero la forma le trae algo innovador, haciéndonos reflexionar sobre una cuestión que está presente en la vida de gran parte de las personas, pero de modo nada convencional. Es difícil clasificar la narrativa de El Nido Vacío, pero, aunque parezca linear, es necesario ponerle atención a las entrelíneas, donde encontrase el gran mérito de la película. El origen de esa narrativa encontrase en el neurocirujano investigador, que utiliza el comportamiento de Leonardo de argumento para cuestiones de su investigación. Perturbado, el protagonista empieza a mezclar realidad e imaginación, lo que es puesto en la pantalla por Burman de forma tan nebulosa como la que el personaje ve la situación. Con el objetivo de acercar más el espectador de las sensaciones confusas enfrentadas por Leonardo, el director vincula la realidad del protagonista a las historias escritas por él, confundiendo aún más realidad y ficción. Así, el realismo fantástico utilizado por el director, no permite distinguir claramente lo que es de facto vivenciado por Leonardo a diario de lo que ocurre solamente en su mente.
El Nido Vacío tal vez no sea la película más atractiva de Burman, pero vale la pena por varias razones. Además de la brillante actuación de Oscar Martínez, galardonado con el premio de mejor actor del Festival de San Sebastian el año pasado, y de la bella fotografía, también laureada en el mismo festival, la película se muestra interesante porque un director de solamente 35 años logró relatar con profundidad problemas por los cuales está lejos de vivenciar. Encima, la obra instiga una profunda reflexión sobre la fuga de realidad: ¿ella auxilia o perjudica la resolución de las dificultades impuestas por la vida?
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Título original: El Nido Vacío
Origen: Argentina, España, Francia, Italia
Dirección y Guión: Daniel Burman
Elenco: Cecilia Roth, Oscar Martínez, Arturo Goetz, Inés Efron, Ron Richter, Eugenia Capizzano, Jean Pierre Noher...
Duración: 91 min
Año: 2008
Tráiler en castellano:

Ninho Vazio reflete imaginação humana em momentos de conflito

O cinema argentino atual tem se demonstrado especialista em passar para a telona dramas corriqueiros da classe média urbana, o que por uma razão aparentemente inexplicável nenhum cineasta brasileiro alcançou ainda fazê-lo. O filme mais recente de Daniel Burman, Ninho Vazio, é mais um exemplo dessa especialidade argentina, porém com uma particularidade a mais. O diretor já vem há algum tempo manifestando sua habilidade em contar histórias que refletem problemas familiares universais. A diferença de sua nova obra é que – ao contrário de suas anteriores lançadas no Brasil, O Abraço Partido (2003) e As Leis de Família (2006), que tratavam de personagens com problemas ligados à figura paterna – agora quem esbarra em dificuldades é o próprio pai.
Leonardo (Oscar Martínez) é um dramaturgo de cerca de cinqüenta ou sessenta anos que parece perder seus objetivos a partir do momento em que seus filhos saem de casa. Enquanto sua esposa Martha (Cecilia Roth) retoma antigos projetos, mantendo-se mais ocupada com outras atividades do que com a ausência dos filhos, Leonardo parece inconformado, buscando, em cada uma das suas ocupações diárias, reviver um passado que não existe mais. A maneira divergente de encarar essa nova fase da vida começa a se transformar em um obstáculo para seu casamento, que ele mais aparenta buscar motivos para levar ao fundo do poço do que para recuperar da má fase.
O tema é aparentemente banal, mas a forma traz a ele algo de inovador, fazendo-nos refletir sobre uma questão que está presente na vida de grande parte das pessoas, porém de forma nada convencional. É difícil classificar a narrativa de Ninho Vazio, pois, ainda que pareça linear, é necessário dar atenção às entrelinhas, onde está o grande mérito do filme. A origem dessa narrativa está no neurocirurgião pesquisador, que passa a utilizar o comportamento de Leonardo de argumento para questões de sua pesquisa. Perturbado, o protagonista passa a mixar realidade e imaginação, o que é colocado na tela por Burman de forma tão nebulosa quanto àquela como o personagem percebe a situação. A fim de tornar ainda mais próxima do espectador o mar de sensações confusas enfrentadas por Leonardo, o diretor vincula a realidade do protagonista às histórias escritas por ele, confundindo ainda mais realidade e ficção. Assim, o realismo fantástico utilizado pelo diretor, não permite distinguir claramente o que está de fato sendo vivenciado por Leonardo no dia-a-dia daquilo que está se passa apenas na sua mente.
Niño Vazio talvez não seja o filme mais atrativo de Burman, mas vale a pena por vários motivos. Além da brilhante atuação de Oscar Martínez, que ganhou o prêmio de melhor ator no Festival de San Sebastian no ano passado, e da bela fotografia, também laureada no mesmo festival, o filme mostra-se interessante pelo fato de um diretor de apenas 35 anos conseguir relatar com tanta profundidade problemas pelos quais ele ainda está longe de passar. Além disso, a obra instiga uma profunda reflexão sobre a fuga da realidade: ela auxilia ou prejudica a resolução das dificuldades impostas pela vida?
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Título original: El Nido Vacío
Origem: Argentina, Espanha, França, Itália
Direção e Roteiro: Daniel Burman
Elenco: Cecilia Roth, Oscar Martínez, Arturo Goetz, Inés Efron, Ron Richter, Eugenia Capizzano, Jean Pierre Noher...
Duração: 91 min
Ano: 2008
Trailer com legendas em português: