terça-feira, abril 28, 2009

Veja do que um pomar de limões é capaz!

Até uma semana atrás não conhecia o trabalho de Eran Riklis, quando me deparei com uma crítica de seu mais recente longa-metragem, Lemon Tree, lançado aqui no ano passado, e decidi saber mais sobre o cineasta. Apesar de ter vivido por dois anos no Brasil, em função do trabalho de seu pai que era embaixador neste país, o israelense ainda parece ser pouco conhecido por aqui. Do total de sete longas de ficção que dirigiu, apenas dois chegaram ao mercado brasileiro.
Já conhecido por abordar as estremecidas relações entre israelenses e palestinos em regiões fronteiriças, como já se havia visto em seu brilhante antecessor A Noiva Síria (2004), Riklis voltou ao tema após ler uma notícia praticamente omitida pela mídia israelense. Através dela, ficou sabendo que uma palestina decidiu ir à justiça contra a derrubada de suas oliveiras determinada pelo governo para resguardar a segurança nacional e decidiu levar a história à telona, com suas devidas adaptações.
Em Lemon Tree – premiado como melhor filme pelo júri popular da sessão Panorama do Festival de Berlim do ano passado – a palestina Salma Zidane (Hiam Abbass), que vive da rentabilidade de seus limoeiros, ganha um novo vizinho, o ministro de defesa de Israel, Israel Navon (Doron Tavory), que determina a derrubada de seu pomar com base nos conselhos da Força de Segurança Israelense que o considera uma ameaça à segurança do ministro e da nação, podendo servir de esconderijo a terroristas. Embora tenham lhe oferecido uma indenização pela perda dos limoeiros, Salma não quer permitir a destruição do cenário de toda uma vida, e decide levar o caso à justiça até sua última instância, ao lado do jovem advogado Ziad Doud (Ali Suliman). A partir disso, o enredo mostra de que maneira a simples plantação que garante a sobrevivência de uma sofrida viúva – a quem não lhe resta praticamente mais nada da vida do que o lugar onde passou toda sua existência – pode influenciar a política de um país.
Apesar de ter nacionalidade israelense, Riklis consegue manter certo distanciamento e dar um tom bastante humano à relação entre os dois povos, mostrando criticamente como as desavenças entre israelenses e palestinos podem afetar drasticamente tanto um lado quanto o outro. A falta de alternativas que vai aos poucos desgastando a palestina Salma cria uma espécie de identificação entre ela e sua vizinha israelense Mira Navon (Rona Lipaz-Michael), esposa do ministro. Enquanto uma está presa pela justiça de um lado do limoeiro, a outra está atada do outro lado, mas por sua segurança. Porém, não são apenas as mulheres que sofrem com tal situação, como se percebe ao longo do filme.
Além da sinopse curiosa e instigante, a atuação do elenco e a riqueza em detalhes também são pontos fortes em Lemon Tree. Desde os já conhecidos Hiam Abbass – que atuou em A Noiva Síria, Paradise Now e Free Zone – e Ali Suliman – que interpretou um dos homens-bomba de Paradise Now – até os estreantes Don Tavory e Rona Lipaz-Michael, todos apresentaram um desempenho impecável. Outro elemento que dá um toque especial à obra é a presença dos limões, que, não por acaso, substituíram as olivas da história verídica. Um filme em que é necessário se dizer muito falando pouco não teria obtido tal resultado sem tais características.
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Trailer:

quinta-feira, abril 16, 2009

Comparações Globais

A cada dia que passa a tevê brasileira se supera mais. A que nível permitimos que chegasse a nossa mídia...

Após noticiar o episódio trágico ocorrido nesta quarta-feira em que seguranças da Supervia violentaram passageiros no Rio de Janeiro, tentando empurrá-los para dentro de um metrô completamente lotado, o Jornal da Globo apresentou uma comparação completamente esdrúxula e absurda. Primeiramente, foram apontadas as irregularidades da ação da concessionária, cujo contrato de concessão estabelece que ela deve prestar serviço com segurança e cortesia. Em seguida, o âncora do telejornal, William Waack, faz uma comparação, dizendo que no Japão, apesar da frequente superlotação, a cordialidade é mantida. Como se fosse um exemplo de serviço uma empresa de transporte público ter funcionários contratados exclusivamente para empurrar com delicadeza os passageiros para dentro do metrô.

E a isso dão o nome de jornalismo...

Dá uma olhadinha aí:

As matérias foram exibidas nesta ordem, uma exatamente após a outra.