quarta-feira, setembro 17, 2008

Um nação à beira do abismo

O presidente Evo Morales tem quase 70% de apoio da população, mas ainda assim parece que está a ponto de cair a qualquer momento ou, pelo menos, de mergulhar seu país numa profunda crise. A minoria contrária a seu governo não aceita sua presença no comando do país e vem prejudicando a economia boliviana após ter dado início a manifestações que assolam as cidades onde a presença da oposição é maioria. Embora Morales tenha cometido algumas gafes na relação com seus opositores, estes parecem estar condenando-o a não governar seu próprio país. O paradoxo é que se a oposição estivesse no governo não teria apoio de grande parte da população para poder governar. Assim, parece que o país está imerso em um jogo político que prejudica toda a população, inclusive os que deram início às rixas.
Eleito democraticamente com 53,74% dos votos, contra 28,59% de apoio a seu opositor Jorge Quiroga, Evo Morales tem maior aprovação agora do que quando foi eleito. O referendo realizado no mês passado, confirmando o presidente boliviano no cargo, demonstrou apoio de 67,4% a Morales. A adesão a ele não é surpreendente, eis que é o primeiro índio a chegar à presidência em 183 de independência em um país em que mais de 70% da população é composta pelas duas principais etnias indígenas do país, quéchuas e aimorás, e mestiços. Menos de 30% da população é branca, de origem européia, mas é exatamente essa parte que constitui a classe dominante, que se concentra nas grandes áreas de oposição a Evo. O problema é que é exatamente em algumas dessas áreas e na mão da classe dominante que se situa a riqueza econômica do país.
Para piorar, o enorme apoio não é suficiente para conformar a minoria opositora, e parece estar colocando a Bolívia em um dos momentos de maior enfrentamento político desde a democratização em 1982, que foi antecedida de quatro anos de golpes militares e sucessivas trocas presidenciais. A crise começou no início do governo Morales, mas ganhou força nas últimas semanas, quando opositores fecharam os acessos aos principais centros econômicos do país e invadiram prédios da administração federal. Um dos motivos do enfrentamento é a constituição aprovada pelo governo federal em dezembro do ano passado sem a presença da oposição. O projeto constitucional de Evo esbarra no plano de autonomia empreendido pelas regiões que têm a oposição no governo e precisa ser submetido a um referendo para ser validado.
O referendo do mês passado que manteve Morales no poder também manteve os governadores opositores submetidos à consulta, o que os concede maior força para solicitarem a autonomia. Provavelmente não seria bom para a nação, cuja riqueza se concentra justamente em algumas dessas pequenas áreas, o que provavelmente condenaria o restante ao empobrecimento. Entretanto, parecem poucas as soluções viáveis para pôr fim à situação. É provável que a oposição não saia vitoriosa, pois, além da aprovação interna ao seu governo, o presidente boliviano tem apoio de praticamente toda a América Latina. Não foi à toa que União das Nações Sul-Americanas (Unasul) reuniu seus integrantes nesta terça-feira, no Chile, para encontrar uma solução para o impasse na Bolívia, e rechaçou a conduta da oposição. Todavia, se não ceder em busca do diálogo com os oposicionistas, conselho dado pelo presidente Lula e rejeitado por Morales, a Bolívia pode ser vítima de uma hecatombe cada vez maior e sem previsão de fim. Se o diálogo não levar a lugar nenhum, talvez seja necessária uma maior intervenção de outros países, o que possivelmente seja o que desejam ansiosamente os lá de cima.

Nenhum comentário: