A mais nova parte integrante de um dos setores mais intelectualmente qualificados da capital riograndense foi obrigada a promover uma festa. Na Fabico (Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS) é assim: os calouros entram achando que são reis porque acabaram de passar num vestibular dificílimo, mas são tão bem recepcionados por seus veteranos que, mesmo não querendo, são forçados a lhes presentear com uma festa. A festa mais alternativa do ano, com a galera mais intelectual da cidade. Decidi ir pra lá. Afinal, com esse público exageradamente pensante, a festa prometia. Prometia tanto que fiquei boquiaberta com o que lá vi.
As festas normais são em boates e as pessoas se arrumam tanto que não é possível reconhecê-las por trás daquela “camisa de força”. Mas a intelectualidade tem de aparecer, portanto ela não se esconde atrás de fantasias de luxo. Fui na festa com a mesma roupa que eu passei o resto do dia. Uma festa feita por uma galera que usa Allstar para um público que passa o dia com mochilas penduradas nas costas não exige muita produção.
As festas alternativas são no galpão do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) – local onde as pessoas não pisam em cima de ti por pena. Um local perfeito para quem passa o dia inteiro de tênis e não se preocupa com aparências. A entrada é no barro (se chove vira um desastre!) – impossível equilibrar-se em cinco centímetros de salto naquela areia toda, quem dirá em dez, ainda mais agulha. A pista de dança é magnífica: volta e meia um escorrega e cai de bunda no chão naquele caldo composto de “ceva”, areia, suor e vômito que cobre todo o piso do salão.
A galera que curte as bandinhas desconhecidas, que venera o rock’n’roll e que menospreza o pagode delira ao som de Art Popular e Ivete Sangalo. As meninas que só usam calças largas espremem-se em calças de stretch ou fazem questão de mostrar suas coxas grossas – ainda que algumas não cheguem nem perto disso – em mini-saias que parecem cintos. Os Allstars do dia-a-dia transformaram-se em sandálias e botas de salto agulha de dez centímetros de altura, no mínimo, para esconder sua baixeza e insignificância. Do mesmo jeito que a abóbora transformou-se em carruagem a fim de levar a Cinderela até seu príncipe encantado. Mas é compreensível. Na festa havia centenas de príncipes encantados. Garotos inteligentes que carregam consigo todos os dias livros de literatura de diversas nacionalidades. Mas claro que na festa eles não estão com livros. Garotos que despejam nas garotas seus discursos intelectualizados para ver se levam alguma delas para casa, ou quem sabe para cama. Pouco lhes importa o que essas garotas vão lhes dizer depois, se sabem algo sobre literatura e, menos ainda, se entenderam alguma coisa da sua falação. Aliás eles rezam é para que elas não entendam e não notem todas as besteiras que falaram – que nada tem a ver com intelectualidade -, a fim de passar as mãos nas coxas que estão à mostra. Eles querem é que elas rebolem ao som do funk - que não dá trégua durante toda a noite de festa - para ver se suas mini-saias sobem mais um pouquinho (se é que é possível) e deixam escapar de trás de si algo mais.
Pseudo-intelectuais em uma festa pseudo-underground. Gente que através de uma metamorfose instantânea encarna uma pose que as bebidas alcoólicas destroem em questão de minutos. Os indivíduos “posudos” viram pessoas degradadas. Bêbados que, naquele momento, estão lado a lado com os “botequeiros” alcoólatras caídos no chão do lado de fora da festa. Passarão o fim de semana inteiro recuperando-se para na segunda-feira vestirem novamente sua máscara de nata intelectual.
Um comentário:
acho que nunca fui assim...não tanto pelo menos.
até porquê mal vestido eu sou até hoje. pra ir trabalhar que eu capricho um pouco mais por questão de sobrevivência.
enfim, faz muito sentido o que tu diz.
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