segunda-feira, outubro 01, 2007

Algo muito longe da felicidade

Estamos, diariamente, engajados em busca da conquista de tudo aquilo a que almejamos. E tudo o que cobiçamos, de alguma forma, centra-se na luta para atingir um mesmo fim: a felicidade. É basicamente esse o tema abordado no filme Algo como a felicidade, desenvolvido através de uma parceria entre a República Theca e a Alemanha. Ao contrário do que sugere o título, a trama contém pouquíssimos momentos de alegria, e são praticamente nulas as cenas em que os personagens cultivam o riso ou mesmo que a ele nos estimulem.
Sem pressa, o diretor Bohdan Sláma, o mesmo de Abelhas Selvagens, introduz o enredo de mansinho e parece ser quase sem querer que entramos no conflito vivenciado pelos personagens. A história tem como eixo a vida e a amizade de três jovens que vivem no subúrbio de uma pequena cidade industrial da República Tcheca. Toník (Pavel Liska), Monika (Tatiana Vilhelmová) e Dasha (Anna Geislerová) cresceram juntos e, já adultos, lutam pela independência e sobrevivência. Ao mesmo tempo, tentam descobrir, juntos, o que esperam do futuro, e acabam se envolvendo profundamente uns com os problemas dos outros e tendo suas vidas marcadas por essas dificuldades.
Tudo se inicia pelo drama de Monika que precisa aprender a viver longe de seu noivo, que deixa a cidade para tentar o sucesso nos Estados Unidos. Ela leva seus dias à espera de alguma notícia do amado e de um convite para encontrá-lo na América. Enquanto isso, lida diariamente com o casamento conturbado de seus pais.
Toník também apresenta dificuldades no relacionamento com seus familiares. Vive com a tia numa antiga casa herdada de seus antepassados, fugindo dos pais que tentam controlar sua vida e retirá-lo da independência. Trabalha como mecânico, a fim de tentar melhorar a antiga e decadente residência onde vive.
Vencedora de diversos prêmios, entre eles o de melhor filme no Festival Czech Lion em 2005, a obra tem como um de seus melhores méritos a atuação de Anna Geislerová, que levou o prêmio de melhor atriz no Festival de San. Ela incorpora Dasha, mãe de dois meninos pequenos que foram abandonados pelo pai, que se envolve profundamente com um homem que passa os dias enrolando-a com promessas jamais cumpridas. Atormentada com as catástrofes que a rodeiam, afasta-se cada vez mais seus amigos.
Ao contrário de se direcionar para a felicidade, o enredo parece ir deteriorando-se aos poucos e seus personagens mais parecem se acostumar com sua ruína do que se superarem. Suas histórias tornam-se ainda mais completas e, consequentemente, profundas e tristes em sua relação com a trilha sonora eleita por Leonid Soybelman, que se adequa perfeitamente ao clima da trama. Ao mesmo tempo em que cultiva a tragédia, o filme demonstra como pequenas situações aparentemente sem importância e significado algum podem se transformar em bons momentos. Leves pitadas de felicidade, se é que assim se pode nomear-las.

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