Nos poucos dias em que tive o prazer de desfrutar Buenos Aires, em uma virada de ano atípica, a capital argentina permitiu-me alguns outros prazeres. Tive a oportunidade de ver de antemão um dos novos filmes de Steven Soderbergh – Che, O Argentino – embora não tenha tido a mesma honra com sua continuação – Che, A Guerrilha – que ainda está por estrear. Quem está no Brasil e não compareceu a 32ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo terá que esperar até feveiro ou março, quando o filme deve estrear por aqui, para saber se concorda ou discorda do que vou dizer aqui. Bastante aplaudido no Festival de Cannes do ano passado, principalmente pela brilhante atuação de seu protagonista, interpretado pelo ator porto-riquenho Benício Del Toro, que recebeu o prêmio de melhor ator no festival, Che, O Argentino não deixa de ser um filme bastante polêmico. Embora tenha sido feito em uma linguagem documental, nem de longe o filme tenta ser imparcial. Soderbergh – mesmo diretor de Traffic (2000), Solaris (2002) e Bubble (2006) – apesar de sua excelente pesquisa histórica, não consegue ir além da imagem de herói atribuída a Che Guevara.
O enredo conta a trajetória de ascensão de Ernesto Guevara de la Serna de médico a comandante na Revolução Cubana, a partir do momento em que ele conhece Raul Castro e é apresentado por este a seu irmão Fidel Castro. Então, Che decide ir à Cuba na companhia de Fidel e mais sete rebeldes no final de 1956, com o intuito de pôr fim à ditadura de Fulgêncio Batista. O filme está dividido em dois eixos narrativos: um deles põe o espectador diante das imagens do ocorrido desde a chegada dos revolucionários à ilha até a tomada de Santa Clara, enquanto o outro se passa em 1964 quando Guevara representa Cuba oficialmente nas Nações Unidas. Esses momentos são intercalados durante a narrativa: imagens mostram Guevara discursando nos Estados Unidos; na mesma ocasião, ele concede uma entrevista que aparece no filme através de vozes em off, cobrindo imagens que mostram as situações as quais ele se refere; logo em seguida, entram as cenas da guerrilha com o som referente à própria imagem. É bom não esperar momentos fortes e emocionantes ao longo da trama, pois apesar de filmes de guerra costumarem estar relacionados a muita ação, não é esse o caso de Che, O Argentino. Seu objetivo não parece ser envolver sentimentalmente o espectador, mas apenas mostrar documentalmente os fatos ocorridos. Entretanto, aí está a grande polêmica do filme de Soderbergh.
O enredo conta a trajetória de ascensão de Ernesto Guevara de la Serna de médico a comandante na Revolução Cubana, a partir do momento em que ele conhece Raul Castro e é apresentado por este a seu irmão Fidel Castro. Então, Che decide ir à Cuba na companhia de Fidel e mais sete rebeldes no final de 1956, com o intuito de pôr fim à ditadura de Fulgêncio Batista. O filme está dividido em dois eixos narrativos: um deles põe o espectador diante das imagens do ocorrido desde a chegada dos revolucionários à ilha até a tomada de Santa Clara, enquanto o outro se passa em 1964 quando Guevara representa Cuba oficialmente nas Nações Unidas. Esses momentos são intercalados durante a narrativa: imagens mostram Guevara discursando nos Estados Unidos; na mesma ocasião, ele concede uma entrevista que aparece no filme através de vozes em off, cobrindo imagens que mostram as situações as quais ele se refere; logo em seguida, entram as cenas da guerrilha com o som referente à própria imagem. É bom não esperar momentos fortes e emocionantes ao longo da trama, pois apesar de filmes de guerra costumarem estar relacionados a muita ação, não é esse o caso de Che, O Argentino. Seu objetivo não parece ser envolver sentimentalmente o espectador, mas apenas mostrar documentalmente os fatos ocorridos. Entretanto, aí está a grande polêmica do filme de Soderbergh.
Sendo a proposta do diretor a proximidade com o documental, esperava-se mais detalhes da personalidade e da atuação de Guevara na Revolução Cubana. Porém, o diretor não consegue transpassar a imagem estereotipada do herói revolucionário, conveniente aos que por ele conservam certa admiração e revoltante para os que repugnam as ações do comandante. As imagens da guerrilha não são tão detalhadas e comoventes como poderiam, ao contrário das imagens do discurso de Guevara. Além da diferença de cor das imagens – enquanto as primeiras são coloridas, as segundas são em preto e branco – as imagens do discurso de Che são mais enfáticas, mostram detalhes da expressão do personagem em uma câmera com muito mais movimento e muito mais detalhes do que as imagens da guerrilha. Conseqüentemente, os momentos polêmicos da guerra, que poderiam provocar revolta ao público e levá-lo a questionar as atuações não só de Che, mas de todos os revolucionários, acabam justificados pelo discurso convincente e envolvente do excelente locutor que é Guevara. A violência é abrandada tanto de um lado quanto de outro. Poucas são as cenas de mortes dos revolucionários, bem como poucas são as de mortes de seus opositores.
Portanto, apesar de ter sido deveras aplaudido onde já foi exbido, Che, O Argentino parece não cumprir sua proposta. Não estou afirmando aqui que Soderbergh errou ao exaltar a imagem de um Che Guevara humano. Porém, creio que se esse era seu objetivo não deveria ter utilizado o tipo de linguagem e estética que se vê no filme. Além disso, é possível evidenciar o lado bom e heróico de Guevara sem ocultar determinadas situações. Se a idéia era aproximar-se do documentário, como é o que parece, que se mostre os fatos, que se mostre o lado humano do Che e dos revolucionários, mas que não se esconda a violência utilizada para seus objetivos. Afinal, a discussão que perdura em relação a essa revolução é se a violência a justifica, e isso é completamente ignorado por Soderbergh. Se é para ser documental, que se tente deixar o espectador decidir de qual lado quer ficar. A grande qualidade do filme fica realmente nas mãos de Del Toro, que interpreta Guevara com uma veracidade nunca antes alcançada, e do restante excelente elenco composto por Rodrigo Santoro (dando vida a Raúl Castro em um espanhol quase impecável), Demián Bichir (interpretando Fidel Castro em uma semelhança assustadora), Santiago Cabrero (Camillo Sinfuegos), Elvira Mínguez (Célia Sánchez), etc.
Portanto, apesar de ter sido deveras aplaudido onde já foi exbido, Che, O Argentino parece não cumprir sua proposta. Não estou afirmando aqui que Soderbergh errou ao exaltar a imagem de um Che Guevara humano. Porém, creio que se esse era seu objetivo não deveria ter utilizado o tipo de linguagem e estética que se vê no filme. Além disso, é possível evidenciar o lado bom e heróico de Guevara sem ocultar determinadas situações. Se a idéia era aproximar-se do documentário, como é o que parece, que se mostre os fatos, que se mostre o lado humano do Che e dos revolucionários, mas que não se esconda a violência utilizada para seus objetivos. Afinal, a discussão que perdura em relação a essa revolução é se a violência a justifica, e isso é completamente ignorado por Soderbergh. Se é para ser documental, que se tente deixar o espectador decidir de qual lado quer ficar. A grande qualidade do filme fica realmente nas mãos de Del Toro, que interpreta Guevara com uma veracidade nunca antes alcançada, e do restante excelente elenco composto por Rodrigo Santoro (dando vida a Raúl Castro em um espanhol quase impecável), Demián Bichir (interpretando Fidel Castro em uma semelhança assustadora), Santiago Cabrero (Camillo Sinfuegos), Elvira Mínguez (Célia Sánchez), etc.
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Mais sobre o filme:
Trailer em espanhol:
2 comentários:
Tu achou isso, é? Toh curiosa agora. Essa noite sonhei que estava em Buenos Aires. Será que vai rolar mais uma viagem a la louca?
Achei, mas, como eu sou totalmente pró-Guevara, curti o filme. Hum.... vai me visitar quando eu estiver lá! :)
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