Apesar de elogiadíssima, tanto por organizadores como por participantes, a 36ª edição do Festival de Cinema de Gramado, que deveria ser centro de discussão sobre cultura e arte, cedeu espaço para o estrelismo e a tietagem, a exemplo do que se costuma verificar em eventos do tipo. A organização tem feito sua parte para colaborar com o debate acerca do tema proposto, mas o público, de modo geral, parece estar muito mais interessado nas celebridades do que no conteúdo que as acompanha.
A edição deste ano, que começou no dia 10 e terminou no dia 16 deste mês, desde o início já superou o público dos anos anteriores, atraindo, no dia da abertura, um número de pessoas equivalente ao normalmente registrado em seus encerramentos. Em parte, o ímã pode ter sido o filme “Nome Próprio”, de Murilo Salles, cuja atriz que interpreta a protagonista Camila, Leandra Leal, era uma das favoritas ao Kikito de melhor atriz da mostra brasileira. Nesse caso, é provável que o público tenha sido atraído mais pela presença da Leandra do que pelo próprio filme. Entretanto, quem parece ter sido realmente a grande atração do primeiro dia de festival é Renato Aragão (o Didi), que compareceu ao evento para receber uma homenagem especial, a quem inclusive o presidente do evento, Alemir Coletto, atribui à grande movimentação do dia 10 em Gramado.
Infelizmente, não tive a oportunidade de acompanhar o dia-a-dia do festival para verificar se a empolgação com as discussões acerca do cinema era tão grande quanto a persistência para conseguir uma foto com um ídolo. Porém, tive a honra (ou a decepção) de cobrir a cerimônia de premiação do evento, o que me pareceu um desserviço aos gênios da sétima arte, bem como uma tremenda falta de consideração com seus fãs.
Primeiramente, Eryk Rocha (o filho do Glauber!) declarou que prêmio não é importante porque depende do júri, então, se muda o júri, muda completamente o viés da premiação. E, óbvio, tem toda a razão, pois embora o júri seja, teoricamente, composto por pessoas que sabem muito sobre cinema, sempre existe a subjetividade, sempre existem características que parecem melhores para alguns e piores para outros. Segundo Eryk, os festivais são mais importantes para mostrar o trabalho e estimular a discussão. Já Murilo Salles afirmou que ganhar um Kikito é mais importante para o seu coração do que para a sua carreira, pois esta já está muito bem consolidada. Então, qual a moral da premiação? Não seria um estímulo à adulação pura e simples?
Por outro lado, dezenas de jornalistas aglomeravam-se, empurravam-se, acotovelavam-se em busca de declarações tão óbvias quanto patéticas: “o que você achou de ter ganhado o Kikito?”. Essa pergunta já foi respondida quando os artistas subiram no palco para receber o Kikito em mãos. Por outro lado, alguém acharia ruim ser premiado? Enquanto isso, dezenas de fãs espremiam-se tentando roubar as celebridades dos jornalistas para tirar fotos, para dar um beijo, para conseguir um autógrafo, enfim, para bajular de todas as maneiras possíveis. Cansados e, provavelmente, irritados, eles tentavam sair pouco a pouco pelo imenso caminho coberto pelo tapete vermelho que leva até a frente do Palácio dos Festivais. Livravam-se de dezenas de fãs e jornalistas para se depararem com centenas de pessoas, cuja maioria apenas gritava achando que todos que passavam pelo tapete eram famosos, não importa por quê. Se por um lado isso parece tudo uma grande bobagem, por outro, é papel do artista lidar com a tietagem e a bajulação, mas alguns vão saindo de fininho para não parecerem arrogantes. Leandra Leal foi um destes. A atriz ficou pouco mais do que quinze minutos após a solenidade para dar atenção a quem a requeria. Sentia-se mal, segundo informou uma produtora que, após levar Leandra, tentava arrastar Murilo Sales com o maior dos seus esforços, enquanto ele tentava manter a simpatia e parava para falar com todos que o acenavam. A fama não é fácil, mas muitas vezes o reconhecimento depende dela, embora com ele venham milhares de outras coisinhas chatas, banais, fúteis.
Por isso tudo, acho essa premiação uma grande bobagem, ao contrário do que presumo ser o restante do evento. Na minha restrita cobertura dos outros dias, feita por telefone, o espaço parecia bem mais estimulante à discussão. Realmente não sei o que dizer do público, pois não o vi e tampouco o ouvi. Creio que assim como o artista molda o público, o público também molda o artista, por isso espero que não tenha sido por nada que as pessoas tenham se dirigido às salas de exibição e que, pelo menos no interior dos espaços de debate, o público tanha transpassado a futilidade da maioria das pessoas que se aglomeravam em volta às grades que protegem o tapete vermelho, entupindo-se de vinho, fondue e chocolate e gritando para cada alma que viam passar.
Infelizmente, não tive a oportunidade de acompanhar o dia-a-dia do festival para verificar se a empolgação com as discussões acerca do cinema era tão grande quanto a persistência para conseguir uma foto com um ídolo. Porém, tive a honra (ou a decepção) de cobrir a cerimônia de premiação do evento, o que me pareceu um desserviço aos gênios da sétima arte, bem como uma tremenda falta de consideração com seus fãs.
Primeiramente, Eryk Rocha (o filho do Glauber!) declarou que prêmio não é importante porque depende do júri, então, se muda o júri, muda completamente o viés da premiação. E, óbvio, tem toda a razão, pois embora o júri seja, teoricamente, composto por pessoas que sabem muito sobre cinema, sempre existe a subjetividade, sempre existem características que parecem melhores para alguns e piores para outros. Segundo Eryk, os festivais são mais importantes para mostrar o trabalho e estimular a discussão. Já Murilo Salles afirmou que ganhar um Kikito é mais importante para o seu coração do que para a sua carreira, pois esta já está muito bem consolidada. Então, qual a moral da premiação? Não seria um estímulo à adulação pura e simples?
Por outro lado, dezenas de jornalistas aglomeravam-se, empurravam-se, acotovelavam-se em busca de declarações tão óbvias quanto patéticas: “o que você achou de ter ganhado o Kikito?”. Essa pergunta já foi respondida quando os artistas subiram no palco para receber o Kikito em mãos. Por outro lado, alguém acharia ruim ser premiado? Enquanto isso, dezenas de fãs espremiam-se tentando roubar as celebridades dos jornalistas para tirar fotos, para dar um beijo, para conseguir um autógrafo, enfim, para bajular de todas as maneiras possíveis. Cansados e, provavelmente, irritados, eles tentavam sair pouco a pouco pelo imenso caminho coberto pelo tapete vermelho que leva até a frente do Palácio dos Festivais. Livravam-se de dezenas de fãs e jornalistas para se depararem com centenas de pessoas, cuja maioria apenas gritava achando que todos que passavam pelo tapete eram famosos, não importa por quê. Se por um lado isso parece tudo uma grande bobagem, por outro, é papel do artista lidar com a tietagem e a bajulação, mas alguns vão saindo de fininho para não parecerem arrogantes. Leandra Leal foi um destes. A atriz ficou pouco mais do que quinze minutos após a solenidade para dar atenção a quem a requeria. Sentia-se mal, segundo informou uma produtora que, após levar Leandra, tentava arrastar Murilo Sales com o maior dos seus esforços, enquanto ele tentava manter a simpatia e parava para falar com todos que o acenavam. A fama não é fácil, mas muitas vezes o reconhecimento depende dela, embora com ele venham milhares de outras coisinhas chatas, banais, fúteis.
Por isso tudo, acho essa premiação uma grande bobagem, ao contrário do que presumo ser o restante do evento. Na minha restrita cobertura dos outros dias, feita por telefone, o espaço parecia bem mais estimulante à discussão. Realmente não sei o que dizer do público, pois não o vi e tampouco o ouvi. Creio que assim como o artista molda o público, o público também molda o artista, por isso espero que não tenha sido por nada que as pessoas tenham se dirigido às salas de exibição e que, pelo menos no interior dos espaços de debate, o público tanha transpassado a futilidade da maioria das pessoas que se aglomeravam em volta às grades que protegem o tapete vermelho, entupindo-se de vinho, fondue e chocolate e gritando para cada alma que viam passar.
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É lastimável que esse tipo de tietagem estenda-se para setores ainda mais importantes, como a política. O Jornal do Comécio de hoje divulgou que, ao meio dia de ontem, a candidata à prefeitura de Porto Alegre Manuela D'ávila mal conseguia debater com seus eleitores devido ao grande número de abordagens para fotos e autógrafos. Depois, todo mundo reclama do empobrecimento do conteúdo das propagandas e debates políticos. Do mesmo jeito que com os artistas, o público molda os políticos, assim como estes moldam o público. O agravante aqui é que eles nos representam, diferentemente dos artistas. Conseqüentemente, deveríamos exigir mais que sejam nosso reflexo, e aumentar a vaidade deles não colabora em nada.
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OBS: Devo a minha inspiração a este texto ao Rafael Cortez, repórter do CQC, que, em seu blog, escreveu um texto bastante reflexivo sobre a relação público-artista. Se puderem, dêem uma conferida. O link está na lista de blogs e sites que eu indico.