
A história está dividida em duas partes diferentes, porém intimamente ligadas entre si: O Subsolo e A Propósito da Neve Molhada. A primeira trata-se de um longo monólogo em que o personagem-narrador anônimo confidencia ao leitor suas mais desprezíveis e intrigantes características. Trata-se de um homem doente, que vive num apartamento localizado no subsolo de um edifício na companhia de um empregado ao qual humilha e menospreza. Demonstra plena consciência de sua mediocridade, mas, ao mesmo tempo, não se desvencilha praticamente nunca da arrogância insuportável que o assola. Deprecia todos que o rodeiam e deseja imensamente a solidão, da mesma maneira que parece aspirar à morte, ignorando sua saúde deficitária. Entretanto, sua condição humana o põe diante de situações em que lhe acomete o medo e em que acaba cobiçando imensamente fugir de sua condição. Esse personagem origina um monólogo ambíguo, em que ele afirma e, em seguida, nega o que acabou de afirmar, seja por meio de palavras ou do relato de suas próprias ações. Apesar de narrada em primeira pessoa, a segunda parte oportuniza ao leitor colocar-se como observador de quem acaba de confessar muito de sua personalidade; e averiguar a veracidade ou falsidade de seu relato, pois nos põe diante das próprias circunstâncias vivenciadas por esse narrador, inclusive algumas que ele expõe na primeira parte.
Escrito no momento em que a primeira esposa de Dostoiévski estava à beira da morte, não é um livro que afirma, mas que metralha o leitor de dúvidas. E é exatamente nisso que está um de seus maiores méritos. Afinal, se somos realmente esse humano tão confuso, temos nós a certeza de algo? A obra atormenta o leitor e não dá a ele nenhum momento do conforto almejado

2 comentários:
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Bela análise. Aliás, vale uma monografia o relacionamento entre patrões e empregados em Dostoiévski-Tchekhov-Gogol-Tolstoi. O serviçal de notas do subterrâneo é brilhante.
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