Tudo o que a gente quer é amor. Tornar real nossa idéia quimérica de amor. Não interessa dinheiro, estabilidade, beleza, nada de coisas materiais e mundanas. Por vezes, acreditamos que realmente conseguimos isso; alcançamos nosso almejado relacionamento sem interesses, sem esperar nada em troca, sem se martirizar em pensar no passado e no futuro. Parece perfeito, em alguns momentos realmente o é.
Passa o tempo, por mais que a paixão ainda seja ardente nossos olhos não são mais os mesmos. Precisamos fazer algum pequeno, por horas, grande esforço pra conseguir enxergar as qualidades antes tão evidentes. Há momentos em que milhares de defeitos aparecem claramente, enquanto as qualidades... onde estão? Acho que isso é um defeito que o ser humano tem, sempre deixa as coisas ruins espalharem uma névoa sobre as boas tapando sua visão. Isso estraga um momento bom em pouco tempo, um relacionamento bom em muito pouco tempo. É simples vermos muitas qualidades em pessoas que conhecemos pouco e idealizá-las como se fossem grande coisa, mas difícil é enxergar as grandes qualidades de alguém quando os defeitos tomam conta, aliás basta um tornar-se perceptível. Findam-se as qualidades.
Acho que Marina conseguiu um amor bem melhor do que tudo isso. Conseguiu uma vez, ao menos, ver as qualidades dentre milhares de defeitos. Achou alguém com quem se dava excepcionalmente bem; sem brigas, tropeços, dúvidas ou embaraços. Isso não foi suficiente pra ela. Foi ambiciosa. Diz pensar só no presente e curtir o momento, mas na verdade não o faz. Pensou no futuro quando viu que seu caminho estava tomando um rumo sério demais. Foi aí que Matheus apareceu.
Ela estava tranqüila, estabelecida e cheia de certezas; bastou ele dar um passo na sua direção pra virem à tona todos esses questionamentos. Amor não era problema pra ela, relacionamento tampouco, mas ele revirou sua realidade em segundos, destruiu um relacionamento sério, quebrou tabus, transformou suas certezas em ruínas. Criou problemas, mas estando sempre ao seu lado, estendendo-lhe a mão. Piorou. Ela não era capaz de sair daquele entrave, cada braço a puxava para um lado, partindo seu coração em dois. Só que era inevitável a tomada de decisão. Decidiu. Chutou o passado pra trás, arriscou dando passos cada vez mais incertos. Beijou muitas vezes aquela boca quente e se afagou naquele abraço magro, caloroso e doce. Deitava sempre naquele ombro amigo, ou quase amigo, ou falso amigo, vai saber. Esqueceu de segurar seu coração que correra a passos largos na frente da razão.
Ele conseguiu. Vitorioso, resignou-se. Deu-lhe às costas e foi embora sem capacidade, nem coragem pra acenar. Fugiu, mas não podia. Seus mundos eram iguais, embora tão diferentes. Horários coincidentes, locais a dividir, amigos em comum. Quisera ela fugir. Arcou com seu fardo e sorriu, mesmo perante sua dificuldade extrema em lidar com esse sentimento inquebrantável. Enquanto ele permanecia reverberante, embora aparentemente estático, inabalável diante da sua consternação. Tentava, em vão, dissuadi-la e a si mesmo, enquanto abusava da profusão. Assim veio o inevitável: a decepção. Um dia aparentemente comum tornou-se descomunal. Numa das reuniõezinhas da turma ela é quem era feliz e inabalável. Recuperada, improvável, conformada talvez. Até que ele abusando da sua exuberante liberdade estendeu a mão, não pra ela, pra outra pessoa sem importância qualquer pros dois. Embora portadora de uma beleza extasiante que encobria seu olhar palermo e dissimulado de mistério. Assim, ele perpetrava o assassinato de qualquer relação entre os dois. O carinho virara mágoa. O amor, raiva. A amizade, malquerença.
A seguir se deixaram levar por brigas e carinhos intercalados indevidamente. Olhos se encarando tentando alguma à toa discrição. Aquele olhar taciturno nos seus olhos escuros, tristes e frios que a sugavam cada vez que se moviam em sua direção. Ignoravam-se quase mutuamente, instigando o ódio. Conversas intencionadas a amenizar tudo isso, ainda que em vão. Bastavam mais alguns dias, com esforço uma semana, mas eles se entregavam aquela guerrinha recíproca mais uma vez. Ela desistiu disso. Não quer mais pazes com alguém que mesmo que tente não entenda. Cansou de pessoas que quando precisa não estão ali e quando não precisa revelam-se prestativas. Não vai mais fingir simpatia, amizade e afeição. Ela não quer amizade, mas não sabe que ele também não. Se provocam e incutem o ódio que se odeiem de verdade. Desse momento em diante tudo é recíproco, embora falsamente.
Destarte, decidiu tratar-lhe do mesmo jeito. Como não tinha ninguém em quem investir nem cogitou a idéia de dar-lhe o troco por tudo o que ele lhe fizera. Isso não seria honrado e estaria se rebaixando a mesquinhez dele. Não banalizaria seu beijo como ele havia feito. Resguardou-se. Num momento qualquer ela percebeu a existência de alguém que lhe era conhecido, embora não muito próximo. Um olhar sutil e um jeitinho misterioso. Uma pessoa séria, ainda que com um quê de graça. O relevante nisso tudo é que ele era completamente diferente do outro. Opostos. Maniqueus. Dia e noite. Alegria e tristeza. Guerra e paz. Amor e ódio. Sim, amor e ódio. Talvez literalmente poderia traduzi-los assim.
Desistiu do passado e sonhou com o futuro incerto. Um relacionamento iniciava-se ali, embora ainda não existisse concretude alguma. O filho da puta voltou, do nada, sem nenhum bom argumento convincente, nem um ruim não convincente, na verdade. Arrependeu-se e deu meia volta, mas deu pra trás de novo, criando situações embaraçosas sem motivos, nem necessidade alguma. E assim seguiu. Parece que não pode perder. Balançou o coraçãozinho da Marina de novo que, forte, não se deixou abalar.
É assim que acontece. É assim que ocorre com muita gente. Palavras doces que traduzem sentimentos doces em momentos amargos. Palavras amargas que traduzem sentimentos amargos em momentos doces. Inconstâncias. Situações amáveis que não duram mais do que minutos, por vezes horas, mas que raramente passam de um dia. As vinte quatro horas diárias passam e a doçura cede lugar à frieza, as belas palavras, a frases dolorosas. Assim, seguem cobrindo o amor com palavras feias tentando disfarçar e se enganar, transformando o amor, pressuposto deveras belo, num sentimento repleto de achaques. Destarte, ela segue sua velha rotina buscando, procurando o tão almejado amor quimérico dos sonhos de todos. Ele não existe; ela sabe. Acaba aceitando o ser humano do jeito que ele é. Ora seu egoísmo; ora sua abnegação. Conforma-se que esse sonho de amor perfeito está longe de tornar-se realidade e que a paixão precisa de um tempo irrelevante pra tornar-se retorta e decrépita. Por isso, fica assim. Entre altos e baixos, prefere o início incerto desse novo amor estável.
Passa o tempo, por mais que a paixão ainda seja ardente nossos olhos não são mais os mesmos. Precisamos fazer algum pequeno, por horas, grande esforço pra conseguir enxergar as qualidades antes tão evidentes. Há momentos em que milhares de defeitos aparecem claramente, enquanto as qualidades... onde estão? Acho que isso é um defeito que o ser humano tem, sempre deixa as coisas ruins espalharem uma névoa sobre as boas tapando sua visão. Isso estraga um momento bom em pouco tempo, um relacionamento bom em muito pouco tempo. É simples vermos muitas qualidades em pessoas que conhecemos pouco e idealizá-las como se fossem grande coisa, mas difícil é enxergar as grandes qualidades de alguém quando os defeitos tomam conta, aliás basta um tornar-se perceptível. Findam-se as qualidades.
Acho que Marina conseguiu um amor bem melhor do que tudo isso. Conseguiu uma vez, ao menos, ver as qualidades dentre milhares de defeitos. Achou alguém com quem se dava excepcionalmente bem; sem brigas, tropeços, dúvidas ou embaraços. Isso não foi suficiente pra ela. Foi ambiciosa. Diz pensar só no presente e curtir o momento, mas na verdade não o faz. Pensou no futuro quando viu que seu caminho estava tomando um rumo sério demais. Foi aí que Matheus apareceu.
Ela estava tranqüila, estabelecida e cheia de certezas; bastou ele dar um passo na sua direção pra virem à tona todos esses questionamentos. Amor não era problema pra ela, relacionamento tampouco, mas ele revirou sua realidade em segundos, destruiu um relacionamento sério, quebrou tabus, transformou suas certezas em ruínas. Criou problemas, mas estando sempre ao seu lado, estendendo-lhe a mão. Piorou. Ela não era capaz de sair daquele entrave, cada braço a puxava para um lado, partindo seu coração em dois. Só que era inevitável a tomada de decisão. Decidiu. Chutou o passado pra trás, arriscou dando passos cada vez mais incertos. Beijou muitas vezes aquela boca quente e se afagou naquele abraço magro, caloroso e doce. Deitava sempre naquele ombro amigo, ou quase amigo, ou falso amigo, vai saber. Esqueceu de segurar seu coração que correra a passos largos na frente da razão.
Ele conseguiu. Vitorioso, resignou-se. Deu-lhe às costas e foi embora sem capacidade, nem coragem pra acenar. Fugiu, mas não podia. Seus mundos eram iguais, embora tão diferentes. Horários coincidentes, locais a dividir, amigos em comum. Quisera ela fugir. Arcou com seu fardo e sorriu, mesmo perante sua dificuldade extrema em lidar com esse sentimento inquebrantável. Enquanto ele permanecia reverberante, embora aparentemente estático, inabalável diante da sua consternação. Tentava, em vão, dissuadi-la e a si mesmo, enquanto abusava da profusão. Assim veio o inevitável: a decepção. Um dia aparentemente comum tornou-se descomunal. Numa das reuniõezinhas da turma ela é quem era feliz e inabalável. Recuperada, improvável, conformada talvez. Até que ele abusando da sua exuberante liberdade estendeu a mão, não pra ela, pra outra pessoa sem importância qualquer pros dois. Embora portadora de uma beleza extasiante que encobria seu olhar palermo e dissimulado de mistério. Assim, ele perpetrava o assassinato de qualquer relação entre os dois. O carinho virara mágoa. O amor, raiva. A amizade, malquerença.
A seguir se deixaram levar por brigas e carinhos intercalados indevidamente. Olhos se encarando tentando alguma à toa discrição. Aquele olhar taciturno nos seus olhos escuros, tristes e frios que a sugavam cada vez que se moviam em sua direção. Ignoravam-se quase mutuamente, instigando o ódio. Conversas intencionadas a amenizar tudo isso, ainda que em vão. Bastavam mais alguns dias, com esforço uma semana, mas eles se entregavam aquela guerrinha recíproca mais uma vez. Ela desistiu disso. Não quer mais pazes com alguém que mesmo que tente não entenda. Cansou de pessoas que quando precisa não estão ali e quando não precisa revelam-se prestativas. Não vai mais fingir simpatia, amizade e afeição. Ela não quer amizade, mas não sabe que ele também não. Se provocam e incutem o ódio que se odeiem de verdade. Desse momento em diante tudo é recíproco, embora falsamente.
Destarte, decidiu tratar-lhe do mesmo jeito. Como não tinha ninguém em quem investir nem cogitou a idéia de dar-lhe o troco por tudo o que ele lhe fizera. Isso não seria honrado e estaria se rebaixando a mesquinhez dele. Não banalizaria seu beijo como ele havia feito. Resguardou-se. Num momento qualquer ela percebeu a existência de alguém que lhe era conhecido, embora não muito próximo. Um olhar sutil e um jeitinho misterioso. Uma pessoa séria, ainda que com um quê de graça. O relevante nisso tudo é que ele era completamente diferente do outro. Opostos. Maniqueus. Dia e noite. Alegria e tristeza. Guerra e paz. Amor e ódio. Sim, amor e ódio. Talvez literalmente poderia traduzi-los assim.
Desistiu do passado e sonhou com o futuro incerto. Um relacionamento iniciava-se ali, embora ainda não existisse concretude alguma. O filho da puta voltou, do nada, sem nenhum bom argumento convincente, nem um ruim não convincente, na verdade. Arrependeu-se e deu meia volta, mas deu pra trás de novo, criando situações embaraçosas sem motivos, nem necessidade alguma. E assim seguiu. Parece que não pode perder. Balançou o coraçãozinho da Marina de novo que, forte, não se deixou abalar.
É assim que acontece. É assim que ocorre com muita gente. Palavras doces que traduzem sentimentos doces em momentos amargos. Palavras amargas que traduzem sentimentos amargos em momentos doces. Inconstâncias. Situações amáveis que não duram mais do que minutos, por vezes horas, mas que raramente passam de um dia. As vinte quatro horas diárias passam e a doçura cede lugar à frieza, as belas palavras, a frases dolorosas. Assim, seguem cobrindo o amor com palavras feias tentando disfarçar e se enganar, transformando o amor, pressuposto deveras belo, num sentimento repleto de achaques. Destarte, ela segue sua velha rotina buscando, procurando o tão almejado amor quimérico dos sonhos de todos. Ele não existe; ela sabe. Acaba aceitando o ser humano do jeito que ele é. Ora seu egoísmo; ora sua abnegação. Conforma-se que esse sonho de amor perfeito está longe de tornar-se realidade e que a paixão precisa de um tempo irrelevante pra tornar-se retorta e decrépita. Por isso, fica assim. Entre altos e baixos, prefere o início incerto desse novo amor estável.
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Há quem não vá gostar, mas esse eh o melhor de todos na minha opinião!!! Pelo menos ninguém vai poder dizer que não é assim que acontece...