Acaba de estrear no Brasil o novo filme do argentino Carlos Sorin – A Janela. Depois de La Película del Rey (1996), Histórias Mínimas (2002) e O Cachorro (2004), o cineasta – que sempre foi um grande admirador das obras de Ingmar Bergman – parece fazer uma releitura de um de seus filmes favoritos do sueco: Morangos Silvestres. A reflexão sobre o passado no final da vida, o afastamento e a distância de pessoas importantes, a solidão irremediável são apenas alguns dos aspectos semelhantes em ambas as obras. Porém, essa influência ainda que inegável parece não ter sido intencional, eis que Sorin afirma tê-la percebido somente após finalizar seu mais recente longa. A influência consciente vem da vida do escritor Anton Tchékhov, um dos maiores ídolos de Sorin. Tanto a própria obra do autor, como a biografia escrita por Irene Nemirovsky, tiverem alguma participação na constituição desta história.
A Janela aborda a vida do escritor Antonio, um idoso de cerca de 80 anos interpretado pelo brilhante ator uruguaio Antonio Larreta. Ele vive numa imensa fazenda no interior da Argentina, onde se encontra atado a uma cama por problemas de saúde, enquanto espera ansiosamente a chegada do filho, que mora na Europa e com quem não tem contato há anos. Os 85 minutos de filme representam a passagem de tempo de apenas um dia na vida do protagonista, que está cheio de vivacidade, ainda que seu corpo não acompanhe sua mente (um dos grandes dramas da velhice).
Entretanto, embora haja pouca ação na tela, há muito intrínseco em cada palavra, em cada gesto de seus personagens. Cabe ao espectador saber interpretá-los; não ser impaciente, querer tudo pronto, entregue diante de seus olhos. O próprio Sorin já andou afirmando em entrevistas que seu filme não é para espectadores passivos, mas ativos, que queiram completar o filme como os elementos ocultos, sugeridos, não ditos. Desde a idéia de ver a vida passando através da janela, a fotografia, a música, até o clima bucólico que permeia a história, tudo possui um ar deveras poético. Trata-se de um filme reflexivo, que dificilmente atrairá o público em massa, mas que certamente resguarda um valor artístico inquestionável.
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