Caminhava todas as manhãs em direção à praça. Sentava sempre no mesmo banco, posicionado exatamente em frente a um ponto de táxi. Chegava sempre cinco minutos antes de Pedro. Jogava pedaços de pão sempre do mesmo tamanho para as pombas, intercalados por um mesmo espaço de tempo para que não terminassem antes de presenciar toda a cena. Pedro saía todos os dias às 7h30min de um prédio localizado na frente da praça. O único taxista que estava no ponto àquela hora da manhã não tirava os olhos do menino desde o momento em que ele colocava a mão na maçaneta da porta. Pedro atravessava a rua em direção ao homem que lhe esperava. Era praticamente uma criança. Devia ter uns 13 anos. Os cabelos bagunçados aparentemente de forma intencional adornavam seu tipo esguio. A franja caída para o lado escondia seus olhos ainda inchados de sono.
— Vamos menino! Temos apenas meia hora até o início da tua aula! – afirmava freqüentemente o taxista diante da lerdeza matinal de Pedro.
Abandonava as pombas por um momento e dedicava toda a atenção ao destino do carro laranja, que nunca alterava seu percurso. Em 45 minutos, o veículo voltava e parava exatamente no mesmo lugar. Pensava, enquanto voltava a alimentar as pombas... Por que Pedro estudava tão longe? Havia centenas de escolas próximas a sua casa.
Um dia, esperei o garoto retornar da escola. Às 12h30min, Pedro vinha caminhando em direção ao prédio de onde sempre saía. Cabisbaixo, o menino direcionava o olhar para o taxista, que agora nem o olhava. Desejei a atravessar a rua em direção ao garoto, mas minhas pernas me impediram. Senti-me aliviado.