
Tendo escrito previamente só a peça de teatro nomeada O Contra-Baixo e o livro de contos Um Combate e Outras Histórias, Süskind faz Grenouille perambular pelas cidades francesas de Auvergne, Montepellier, Grasse e, claro, a capital do país em busca de um cheiro que o faça ser notado pelos outros. Ao contrário do que o início do enredo possa sugestionar, seu desejo não é tornar-se um consagrado perfumista em meio a “boa dúzia” deles, que buscam acabar com a podridão que assolava a Paris da época. Sua intenção é apenas encontrar um odor para si mesmo; e sua cobiça é tamanha que seria capaz de qualquer coisa para atingir seus anseios. Para isso, o habilidoso rapaz insere-se na vida de um frustrado perfumista, passando a trabalhar como seu aprendiz. Grenouille busca arduamente desvendar todos os métodos utilizados para fabricar as mais diversas essências; fabricação esta descrita perspicaz e detalhadamente por Süskind.
Aliás, não são exclusivamente os pormenores do autor que qualificam sua obra. O Perfume é dotado de um ritmo que já tem início logo nas suas páginas mais primordiais e que permanece, através da repetição e dos jogos de palavras, durante toda a trajetória angustiante do protagonista, até o desvendar dos mistérios desencadeados ao longo da trama. Ademais, tem-se outra percepção do mundo através da obra, pois tudo o que normalmente percebemos através da visão, é proposto que analisemos por meio de outro sentido, que costumamos utilizar em freqüência consideravelmente menor. Através de odores que vão dos mais fétidos aos mais prazerosos, o alemão nos descreve minuciosamente a sociedade francesa da época, nos revelando pouco a pouco o desenrolar da trama, cujo final consegue ser ainda mais inusitado do que a idéia perpetrada pelo autor.