Me frustro com tudo isso, mesmo sabendo que quase ninguém que eu conheço consegue dar conta de tudo o que faz ou gostaria de fazer. Me frustrei mais ainda na segunda-feira, na reunião do projeto de pesquisa do qual sou bolsista. Durante o encontro surgiu o assunto Moacyr Scliar. Seja porque ele está de aniversário nesta semana ou por seu reconhecimento como escritor. Não importa. O que nos despertou mesmo atenção é que ele completa hoje* setenta anos e tem setenta e quatro livros publicados. O primeiro foi escrito aos 25 anos. Ele escreve mais de um livro por ano; eu mal dou conta de ler os jornais diários. Faz mais de um ano que tento terminar o roteiro de um média-metragem e não consigo parar, pensar e despejar no papel as idéias que faltam para aprofundar uma questão que ainda está superficial. O máximo que já consegui escrever na minha vida inteira por espontânea vontade foi o roteiro de um curta-metragem que tem cinco páginas. Escrevo freqüentemente, para algumas disciplinas da faculdade, textos de uma ou duas páginas, mas, confessando, acabo escrevendo somente porque sou obrigada a fazê-lo.
Não consigo ver o Scliar como uma pessoa comum que passa na rua por mim e dá bom dia. Para mim, parece que os dias são cada vez mais curtos. Para o Scliar parece que não. Dá aula de medicina preventiva na Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre e escreve livros que, muitas vezes, não têm relação alguma com medicina. Se não bastasse, contribui, ainda, com os impressos Zero Hora e Folha de São Paulo. Uma professora minha disse uma vez: “ele escreve tanto porque não é professor”. Engano seu. Ele não só é professor como, dentre todas suas atividades, ainda tem um filho. Já adulto, é verdade, mas, quando era pequeno, o Moacyr já escrevia. Scliar não só não é comum, como não é humano. É uma maquina de fazer tempo.
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*23/03